Uma vida dedicada ao saber. José Marta Filho, 77 anos, é daqueles educadores que acreditam no poder que o conhecimento tem em transformar vidas. Nascido em Ibirá (SP), filho de pais analfabetos, ele construiu uma trajetória dedicada à formação humana e à qualidade do ensino.
Começou a ministrar aulas aos 19 anos, quando ainda cursava faculdade de matemática, e fixou-se em Bauru em 1978, onde tornou-se engenheiro civil doutor pela Unesp. Desde então, construiu sólida carreira nas áreas de educação superior, engenharia, avaliação institucional, segurança do trabalho e perícias técnicas.
Com décadas de experiência como docente, foi chefe do Departamento de Engenharia de Produção da Unesp e um dos criadores Simpósio de Engenharia de Produção (Simpep). Atuou como gestor acadêmico em diversas instituições privadas de ensino superior e, atualmente, mantém uma consultoria educacional, chancelada por sua atuação como avaliador oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Inep/MEC) e do Conselho Estadual de Educação (CEE).
O educador encontra tempo, ainda, para liderar o Instituto Marta Filho e dedicar-se à família - a esposa Sara, os filhos Gustavo, Taís e Guilherme e as netas Maria e Helena - que considera seu verdadeiro alicerce. Nesta entrevista, ele reflete sobre os desafios enfrentados ao longo da vida, as múltiplas frentes em que atuou e atua mesmo após a aposentadoria e o papel da família como base de tudo.
JC - O que o motivou a buscar uma vida diferente da que tinha na infância?
José - Um dia, vi um amigo da escola receber um prêmio e pensei que eu também poderia. Na década de 1960, o ensino não era universalizado, então, fiz o exame de seleção para cursar o ginásio e passei. Foi minha primeira vitória. E, na sétima série, após receber um elogio público da professora Márcia, de matemática, decidi seguir os passos dela. Em 1964, fui para Birigui para fazer o científico (ensino médio) e foi um mundo novo e desafiador para um caipira, mas tive ajuda. Concluí o científico e, no ano seguinte, aos 19 anos, comecei a dar aulas de matemática em Novo Horizonte.
JC - O senhor já estava fazendo faculdade?
José - Sim, estava no primeiro ano do curso de matemática, na Fundação Educacional de Penápolis. Em Novo Horizonte, conheci a Sara e já sabia que ela seria a mãe dos meus filhos. Quando ela foi estudar odontologia em Araraquara, decidi cursar engenharia civil na Fundação Educacional de Bauru (atual Unesp) e, depois, ela veio para cá. Aqui, dei aulas em todas as faculdades, preparei questões de matemática de vestibulares da Unesp, Unicamp, ITE, USC, dei aulas em escolas estaduais. Trabalhava de manhã, à tarde e à noite.
JC - E ainda atuava como engenheiro?
José - Era uma loucura. Fui engenheiro avaliador de imóveis da Caixa Econômica Federal e também assinei várias obras particulares. Mas parei quando me tornei professor da Unesp com dedicação em tempo integral. Lá, tive a oportunidade de fazer mestrado e doutorado em engenharia, fui chefe do Departamento de Engenharia de Produção e um dos criadores do Simpep, evento que ganhou destaque nacional ao promover o intercâmbio entre universidade, setor produtivo e comunidade científica - e que existe até hoje. Foi um período maravilhoso. Quando me aposentei, fui trabalhar como gestor de instituições de ensino superior da rede privada.
JC - Em quais trabalhou?
José - Ocupei cargos de reitor e diretor em instituições como o Centro Universitário de Araras (Unar), Centro Universitário Carlos Drummond de Andrade, em São Paulo, Faculdade do Vale do Itapecuru, em Caxias (MA), Instituto Educacional do Estado de São Paulo. Ao retornar a Bauru, meu último trabalho como diretor foi no Iesb. Depois, abri uma consultoria educacional em que atuo, por exemplo, para um curso de graduação ser reconhecido pelo MEC, já que sou avaliador do MEC e do CEE. O mais recente foi abrir a faculdade de medicina de Guarulhos e fui convidado para assumir como diretor. Até fiquei tentado, mas, agora, a prioridade é a família.
JC - Agora, trabalha apenas como consultor educacional?
José - Também faço perícia judicial como engenheiro na esfera federal, estadual e do trabalho. São pareceres técnicos de imóveis, pontes, tudo o que for ligado à engenharia civil, além de demandas relacionadas à segurança do trabalho. São atividades esporádicas, mas que exigem a mesma responsabilidade com que sempre trabalhei e me dão prazer. Sou, ainda, fundador e presidente do Instituto Marta Filho Engenharia e Avaliações (IMFea), voltado a perícias, avaliações, consultorias e formação técnica. Então, estou aposentado, mas não na inércia. Além disso, também amo ser avô da Maria e da Helena, que são filhas do Gustavo e são anjos em nossas vidas. Minha família é o que dá sentido a tudo, inclusive às minhas conquistas profissionais.
JC - São o seu legado?
José - São meu patrimônio, junto com meu legado na educação. Meu desejo sempre foi contribuir para a melhoria do ensino, porque acredito muito em como a educação pode modificar a vida das pessoas para melhor. Quanto à família, tenho muito orgulho dos meus filhos. O Gustavo é o atual presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia e médico no Hospital Sírio Libanês; o Guilherme é oncologista pela USP e está na Universidade de Harvard (EUA); e a Taís é doutora em Direito pela USP. Se tudo o que fiz, com exemplo e entrega, ajudou a formar essas pessoas que tanto amo, então, cumpri minha missão. Apesar da rotina intensa de trabalho, sempre tive na família meu ponto de equilíbrio. Com a Sara, minha companheira de vida e com quem compartilho a paixão pelo conhecimento e pelo serviço à sociedade, construí um lar pautado por afeto, diálogo e valorização da educação.