"Destemperada", a carta que Trump mandou para Lula pelo website, informando da sua decisão de punir o Brasil com tarifas aduaneiras de 50%, se não suspender o processo judicial contra o ex-presidente Bolsonaro. Quem utilizou o qualificativo inicial foi o economista norte-americano Paul Kruger, professor em Princeton, premiado com o Nobel por seu trabalho sobre a nova teoria do comércio. Ignorante, ridículo, foram outros adjetivos usados na imprensa internacional mimoseando o presidente norte-americano.
O homem pode ser tudo isso, mas é o que temos a enfrentar. O negociador maluco, com seu bastão de beisebol, pode destruir a nossa economia. Está certo que são inegociáveis a independência do judiciário, a democracia brasileira e o país soberano que somos. E daí? Se você fixar o olhar em um louco, ele se sentirá ameaçado e vai agredi-lo. O problema tem que ser tratado com firmeza, mas com serenidade. Lula precisa parar de falar como o grande inovador da geografia econômica mundial. Querer substituir o dólar como moeda mundial de troca, é uma estultice. Primeiro, porque é muito difícil e demorado. Substituir dólar por yuan chinês, seria um bis em idem. Continuaremos a não poder imprimir nem um e nem outro. O que já é uma bênção.
Quem acabou dando um tiro no pé foi Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente. Largou a Câmara dos Deputados para mudar-se para os Estados Unidos e ali conspirar contra Lula e o ministro Alexandre Morais. O "Bananinha", como é chamado, projetava ser candidato a presidente da República, substituindo o pai com os direitos políticos cassados. Conseguiu convencer Trump a se pronunciar em favor do pai, ameaçado de ser preso. A porretada foi o tarifaço, que põe em perigo a indústria, o agronegócio, empresas brasileiras e milhares de empregos. Trump gosta de usar os que dele se aproximam com interesses, como escada para os seus rompantes retóricos. Para Elon Musk, "quem tem amigos como Truman não precisam de inimigos". Esse amor pelo Bolsonaro também não vai longe.
Lula, pelo contrário, que já estava sendo considerado como o "grande perdedor de 2026", ganhou um trunfo eleitoral com a agressão de Trump. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, certa vez pousou com o boné de Trump - "Make America Great Again" (MAGA). A foto viraliza na internet como se o candidato à reeleição fosse um "traidor da pátria".
A reação ao tarifaço de Trump não se dará com o fígado, mas com inteligência. Diplomacia de veludo. Lula, que tanto fala em nome dos Brics - aliança econômica de países emergentes - poderia até convidar os Estados Unidos a se associarem, para mostrar que só quer vender mais, seja lá para quem for. Esqueçam a Lei da Reciprocidade, a do olho por olho. Vivemos sem ela até 14 de abril, quando foi promulgada. Responder a Trump também com elevação de tarifas aos produtos importados só vai aumentar o custo de vida no Brasil. Os bolsonaristas não votaram em Trump. Querem o Brasil com "s", soberano. A militância patriota não quer se enrolar na bandeira americana, perder o emprego, prejudicar o agronegócio, a nossa indústria e o comércio.
O Bananinha, que um dia quis ser embaixador em Washington, ainda ameaça: "Não vai ficar só nos 50 % de tarifa. Vem mais coisa por aí".
Napoleão ensinava aos seus generais a nunca interromper o inimigo enquanto ele estiver cometendo um erro. Lula às vezes tem lampejos de sabedoria estratégica, mas também comete gafes, como o de visitar Cristina Kirchner, em prisão domiciliar, condenada por corrupção na Argentina. Pousou com um cartaz pedindo liberdade para a ex-presidente. E agora condena a interferência de Trump nas questões internas do Brasil.
O estrategista de Bill Clinton, em 1992, ficou célebre com a frase, agora "é a economia, estúpido". Esperamos um Lula pragmático.