‘Tabuleiro’.
Peças movem-se pelo tabuleiro, singrando espaços deixados pelo poder público, ocupando o vácuo de Estado e desafiando o rei. Xeque. Mate?
Quem decide vida e morte, polegar para cima ou para baixo, é o PCC (Primeiro Comando da Capital), maior e mais temida facção criminosa do Brasil, criada no dia 31 de agosto de 1993, no ‘Piranhão’, o pavilhão anexo da Casa de Custódia de Taubaté – apelidado pela organização, em seu estatuto, de ‘campo de concentração’ e fábrica de monstros’.
No jargão da organização criminosa, trata-se do ‘tabuleiro’ -- nome para os tribunais, onde a definição sobre quem viverá ou morrerá é feita como o lançar de dados. “Eles [PCC] montam o tabuleiro todos os dias. Mas matar alguém é raro, hoje bater é o mais comum”, diz um agente especializado no combate à facção criminosa no Vale.
Duas pessoas foram presas em operação contra organização criminosa suspeita de executar inimigos por meio do tribunal do crime em São José dos Campos. Trata-se de justiçamento utilizado por facções criminosas para matar desafetos. A ação acontece nesta sexta-feira (4) (veja aqui).
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Os ‘tabuleiros’ acontecem nas ‘quebradas’ sob o domínio dos ‘irmãos’ (os integrantes da organização criminosa), com ‘júri’, acusação e defesa. “Se fizer algo na quebrada, eles cobram”, alertou o policial. “O PCC não cobra só se fizer algo para alguém da facção. Se fizer qualquer coisa na quebrada deles, eles cobram”, completou.
O julgamento é composto por ‘irmãos’ em liberdade e presos, com ‘transmissão via celular. Os ‘crimes’ mais graves são os de estupro e roubo (principalmente se ligados ao desvio dos recursos obtidos pelo tráfico, o carro-chefe da facção).
Os ‘tabuleiros’ são usados ainda em assuntos ligados à quebrada -- para punir quem pratica furtos e roubos na redondeza, casos de abuso sexual, entre outros.
Aplicada nos tabuleiros, a pena de morte é chamada de 'decreto'. No entanto, ela seria rara. “Depois a gente acha o corpo”, contou a OVALE uma fonte ligada diretamente à investigação sobre os crimes praticados pelo PCC.
Nas chamadas 'quebradas', o tráfico atribui ao PCC a redução drástica na quantidade de homicídios -- a posição é atestada por parte dos especialistas em setor, e questionada por outra parcela, assim como pelo Estado.
Em áreas de São José, a ordem é conhecida como 'Bandeira Branca'.
De acordo com o MP, o PCC se expandiu e hoje atua em todo o Brasil e também em outros 28 países (ver aqui).