Aos 52 anos, o bauruense Daniel Henrique Lombardi Daibem, o Daniel Daibem, carrega uma trajetória plural. Músico, radialista, apresentador e educador, ele vive desde os 19 anos em São Paulo, onde consolidou a carreira entre palcos e estúdios. Após a adolescência roqueira em Bauru, migrou para a Capital para cursar Rádio e TV na Faap e mergulhou no universo musical e da comunicação.
Começou como estagiário na 89 FM até chegar à Eldorado FM, onde criou e apresentou por sete anos o programa Sala dos Professores para falar sobre jazz de forma simples e didática. O produto surgiu como consequência dos estudos de Daniel, que ficou por oito anos na renomada escola de música Groove, de Leyve Miranda.
O aprofundamento dos conhecimentos e a experiência adquirida no rádio ao vivo deu a eloquência necessária para que o músico desenvolvesse trabalhos educativos também nos palcos e na Internet, transformando música em experiência de descoberta. Além de ser bastante ativo no Instagram, ele apresenta um talk show em seu canal no YouTube e é guitarrista e vocalista da banda Vanda and The Youngs, que toca clássicos do AC/DC, e líder do Daniel Daibem Trio e do Daniel Daibem & Grupo.
Filho de Isaías e Ana Maria Daibem, professores com atuação pública e política em Bauru, e casado com Cristiane Diniz, com quem tem a filha Laura, 9 anos, nesta entrevista Daniel revisita momentos de sua jornada multifacetada no audiovisual, que passa pelo cinema, TV, rádio e, especialmente, pela música.
JC - Seus pais o influenciaram a ser, de certa forma, educador?
Daniel - Não sou professor de sala de aula, mas, quando percebi, estava no palco explicando músicas para os espectadores. Fiz o mesmo no rádio por 18 anos. Nos meus trabalhos, procuro desvendar principalmente a linguagem do jazz, porque as pessoas acham que é algo difícil, mas tem origem muito simples. O afro-americano, na plantação de algodão, já estava desenhando o que seria o jazz. E mostro o quanto isso está presente em músicas de rock, blues, até no pop.
JC - Como foi seu início com a música em Bauru?
Daniel - Desde pequeno, gostava muito de ver televisão, cinema, tudo o que envolve audiovisual. Aos 5 anos, sabia que queria fazer algo parecido com o que assistia e, como tudo acontecia em São Paulo, já pensava que seria melhor morar lá, mas esperei até os 19 anos. Neste meio tempo, conheci os discos de AC/DC, Iron Maiden, Judas Priest e foi um caminho sem volta. Ainda na adolescência, fiz parte de uma banda de metal, a Necrofobia, e cheguei a tocar profissionalmente em outra, o War Pigs on The Block, mas logo me mudei para São Paulo.
JC - Para estudos ou trabalho?
Daniel - Fui fazer faculdade de Rádio e TV na Faap e, no segundo semestre, virei estagiário da 89 FM, A Rádio Rock. Depois, trabalhei na Brasil 2000 FM e, de 2000 a 2011, na Eldorado FM, onde fiquei conhecido com o programa Sala dos Professores, orientando o ouvinte a perceber a identidade e a linguagem do jazz. Aos 27 anos, quando entrei na Eldorado, fui estudar música formalmente na Groove, onde fiquei por oito anos 'trancado', estudando mesmo. Lá, assim como fazem os grandes mestres do jazz, a gente aprende a executar de boca e batucar com as mãos tudo o que vai tocar no instrumento, por ter consciência dos grooves, das melodias.
JC - Quando saiu, desenvolveu qual trabalho?
Daniel - Voltei a tocar profissionalmente, com uma espécie de aula show. Agora, tenho três trabalhos: o Daniel Daibem Trio, com músicas autorais, temas instrumentais, funk, soul; o Daniel Daibem & Grupo, no qual faço as aulas show; e o Vanda and the Youngs, que é uma homenagem aos cinco primeiros álbuns do AC/DC, uma banda que não faz heavy metal, mas sim rhythm'n'blues pesado. No show, falo um pouco do legado deles. Também faço isso no meu Instagram e no canal do YouTube, sempre de forma simples e didática.
JC - E agora tem um programa no YouTube, correto?
Daniel - Chama-se A Propósito Talk Show. Estamos no sexto episódio, sem compromisso de gravar periodicamente, mas sim receber pessoas interessantes. O penúltimo, por exemplo, foi com o Amilton Godoy, pianista de Bauru integrante do Zimbo Trio. É um ambiente com instrumentos onde a gente pode tocar e falar sobre o impacto da música na vida do convidado. Além disso, tenho o Abacateiro, plataforma de assinatura de conteúdos educativos sobre música que está desde setembro passado no ar. A gente coloca um conteúdo por semana, como fonogramas, extras do talk show e o principal, os 'abacates maduros', que são trechos de frases musicais, progressões harmônicas, estudo de intervalos, que o assinante colhe, ou seja, pega, quando se sentir capaz de escutar e executar.
JC - Teve experiências anteriores em frente às câmeras?
Daniel - Fiz alguns trabalhos em cinema, que é algo que amo, como o guitarrista da Elis Regina no filme Elis e o baterista do Chitãozinho e Xororó na série As Aventuras de José e Durval, ambos do Hugo Prata. Já atuei em filmes publicitários, fiz alguns trabalhos dentro da TV Cultura e fui duas, três vezes na bancada do Roda Viva. Também apresentei o Hollywood Rock, em 1994, na Band e, na MTV, com o Bruno Galan, de Bauru, escrevi e atuei em vinhetas promocionais do prêmio Video Music Brasil. Também fiz uma temporada do programa Lado H, do canal Fashion TV (atual Glitz), sobre o universo masculino. Depois, apresentei o Entre Sem Bater, no canal VH1, em que eu ia na casa de um artista, conversávamos e ele elencava dez videoclipes que o influenciaram. Participaram Pitty, Erasmo Carlos, Branco Mello (dos Titãs), Lucas Silveira (da Fresno), entre outros.
JC - Além do trabalho, o que gosta de fazer?
Daniel - Andar a pé. Quando me mudei para São Paulo, decidi que queria ter uma vida feliz, plena e a primeira providência foi não ter carro. Então, sempre moro nas proximidades de onde tem transporte público, levo minha filha na escola e são oito minutos muito gostosos caminhando. Andar a pé e observar o mundo é meu fascínio.