Solidariedade não tem crachá, cargo ou manual. Ela brota no afeto, na escuta e no olhar atento ao outro. Em Jundiaí, diferentes iniciativas mostram como o cuidado pode nascer de amizades, vizinhança e experiências pessoais, muitas vezes sem qualquer intermediação de ONGs ou instituições. São gestos espontâneos que, em alguns casos, crescem tanto que acabam se tornando projetos estruturados ou até organizações sociais. Mas tudo começa no desejo genuíno de fazer o bem.
Foi esse sentimento que moveu a aposentada Selma Petronilho a reunir um grupo de amigas para ajudar um público específico: as famílias dos alunos do Programa de Esportes e Atividades Motoras Adaptadas (Peama). “A gente viu que muitos pais não conseguiam pagar o figurino das apresentações de dança. Então decidimos nos juntar para isso”, conta.
Apesar de voltado às famílias do Peama, o grupo não pertence ao programa. “É algo independente, feito por mulheres que queriam fazer a diferença. Nos unimos por amizade e empatia”, explica Selma.
Em 2019, com o sucesso das primeiras ações, o grupo adotou o nome Acordar e ampliou as iniciativas: bazares, festas juninas, vendas beneficentes e rifas. Toda a renda era revertida aos alunos e familiares do programa. Durante a pandemia, a mobilização cresceu e passou a atender também com cestas básicas, máscaras, roupas, fraldas e itens de higiene.
“É tudo feito com o que temos. Não somos ONG, não temos sede, não temos fundo fixo. Temos vontade”, conta Selma.
A fisioterapeuta Gabriela Pupo Carneiro corre ao lado de quem não pode correr. A bordo de triciclos adaptados, ela empurra pessoas com deficiência em provas de rua — não como profissional de saúde, mas como voluntária. “É só pelo prazer de ver o outro feliz. Não tem cobrança, não tem palco. É por amor”, diz.
Desde criança, Gabriela tem o olhar voltado para o outro. “Quando eu tinha seis anos, perguntei por que uma coleguinha da escola era tão suja. Minha mãe me levou até onde ela morava embaixo de uma ponte. Aquilo nunca saiu da minha cabeça”, conta.
O que veio depois foram anos de dedicação a ações comunitárias: brinquedos doados em bairros como Vila Ana e Marlene, apoio a projetos esportivos para crianças, atendimentos gratuitos e incentivo a atividades que afastam jovens das ruas. “A solidariedade tem pressa. Ela não espera partido, eleição, religião. Ela só precisa acontecer”, afirma.
Com sete cirurgias na perna esquerda por conta da poliomielite, Conceição diz que o voluntariado transformou sua vida. “Quando a gente começa a ajudar, acha que está fazendo pelos outros. Mas na verdade, é a gente que recebe. Isso mudou meu modo de pensar, me mostrou outro universo.”
Para Nelcione Aparecida de Meira, o voluntariado não foi exatamente uma decisão planejada. “Não foi algo raciocinado. Tenho um filho com autismo, hoje com 20 anos. Quando ele começou a fazer terapias e me pediram para ajudar com a Nota Paulista”, relembra. Foi o primeiro contato com a ideia de contribuir de alguma forma ainda sem saber que, anos depois, isso se tornaria parte de sua rotina e propósito.
Com o tempo, o que era apenas apoio se tornou vocação. “O voluntariado virou um dos meus propósitos de vida. A gente doa tempo, energia, mas quem mais ganha é o voluntário. Não esperamos agradecimento nem honra. A melhor recompensa é a alegria íntima de saber que está contribuindo para o bem-estar de alguém.”
Elas agem com o que têm: empatia, tempo e disposição. E isso, por si só, já transforma muitas vidas.