22 de dezembro de 2025
COMARCA DE FRANCA

500 prisões por pensão em 2024 expõem abandono de mães solos

Por Pedro Dartibale | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Sampi/Franca
Reprodução
Mãe segurando a mão de seu filho: dados de prisão por não pagamento de pensão assustam

"Eu sou mãe e pai, sou colo e sustento. Quando ele sumiu, eu fiquei.” O desabafo é de uma mulher de 36 anos, moradora de Franca, mãe de uma criança de 8 anos. Ela prefere não se identificar, mas sua história é como a de milhares de mães solo que sustentam seus filhos sozinhas após o abandono paterno, inclusive financeiro.

Nos últimos anos, a pressão por pensão alimentícia se tornou mais visível nas estatísticas da comarca de Franca, que engloba dez municípios. Segundo dados do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o número de mandados de prisão por não pagamento de pensão alimentícia disparou: em 2022, foram 369 cumprimentos. Em 2023, esse número subiu para 428. Em 2024, chegou a 500. Só em 2025, até agora, já foram 302 prisões.

Os números chamam a atenção não apenas pela alta, mas pelo que revelam: enquanto os pais inadimplentes podem chegar a ser presos, as mães seguem acumulando jornadas de trabalho, cuidados e frustrações sem qualquer garantia de que os valores devidos serão, no mínimo, pagos.

“A justiça até manda prender, mas isso não resolve o meu problema. Eu continuo sem o dinheiro. Continuo com as contas, com a lancheira para montar, com os boletos para pagar”, relata a mãe.

Durante a pandemia do coronavírus, a prisão civil dos devedores foi suspensa — o que explica a queda nos mandados entre 2020 e 2021. Em 2020 foram 52 prisões, e em 2021, apenas 71. Mas, a partir de 2022, com a retomada dos processos, os números voltaram a crescer.

O TJSP esclarece que não possui dados sobre a inadimplência em si, apenas os casos que evoluíram para prisão. Ou seja: a situação pode ser ainda mais grave do que os números sugerem. Muitas mães optam por não judicializar ou sequer conseguem arcar com os custos de um processo.

Para a mãe entrevistada, a dor maior não é o abandono financeiro, mas o emocional. “O dinheiro faz falta, claro. Mas o que machuca mesmo é ver que ele escolheu sair da vida do filho, que para ele é fácil deixar para trás o que para mim é tudo.”

A realidade das mães solo ainda é invisibilizada em muitas esferas. Os dados de Franca são apenas um reflexo de uma crise silenciosa, em que o descaso paterno é compensado diariamente por mulheres que sustentam, educam e acolhem sozinhas. Muitas vezes, sem sequer o básico garantido.