26 de dezembro de 2024
IGREJA CRISTO REI

Pai de 2 filhos, bispo em SJC diz que se divorciou por religião

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução / Instagram
Dom Léo Assis durante a ordenação episcopal em São José

Ordenado bispo em São José dos Campos no último final de semana, pela Diocese Católica Episcopal Cristo Rei, dom Léo Assis, 35 anos, conta que se separou da esposa com quem tem dois filhos por causa da religião.

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“Vou te contar uma polêmica: esse padre já foi casado e, por questões de religião, a ex-esposa seguiu outra religião e eu sigo a minha vida, e hoje sou celibatário por opção, não por ser obrigado”, afirmou o religioso, que vem causando polêmica na cidade.

Natural do sul de Minas Gerais, dom Léo lidera o Movimento Continuante no Vale do Paraíba. Ele se tornou bispo na noite de sábado (7), após receber a ordenação episcopal de três bispos do movimento, incluindo dom Georges Gaidhos, arcebispo da Igreja no Brasil.

Dom Léo agora é bispo diocesano da Diocese Católica Episcopal Cristo Rei e Nossa Senhora da Prosperidade, que abrange a região do Vale do Paraíba e não tem nenhuma ligação com a Diocese de São José dos Campos e tampouco com a Igreja Católica Apostólica Romana.

O Movimento Continuante é ligado a uma dissidência norte-americana da Igreja Anglicana da Inglaterra.

Semelhanças.

Os paramentos, títulos e rituais são praticamente os mesmos da Igreja Católica Romana, incluindo missas de cura e libertação, além de rituais de exorcismo, todos também realizados pelos católicos romanos. O movimento também celebra a “Santa Missa”, reza orações e utiliza a hóstia consagrada ou o pão ázimo.

No entanto, a Igreja não obrigada o religioso a ser celibatário e aceita padres e bispos casados. Os membros também mantém trabalho remunerado fora da Igreja.

“Há diferenças pontuais das igrejas separadas de Roma. Não estamos submetidos à autoridade ao santo papa, mas nossa província reconhece que Francisco é sucessor de Pedro. A nossa intenção em São José é construir pontes, enquanto movimento eclesiástico. Não queremos dividir e nem tomar fiéis de ninguém”, afirmou dom Léo.

“A maioria dos nossos padres e bispos tem um serviço secular e não é a Igreja quem paga salário oficial. Às vezes temos ajuda de custo para moradia e transporte, mas a recomendação é que cada um se sustente para não pesar no povo de Deus.”

Igreja Católica.

Dom Léo disse ter tido uma trajetória dentro da Igreja Católica Romana como seminarista em Aparecida, no Seminário Santo Afonso, em 2007. Depois disse que passou pela Ordem Franciscana, mas deixou os estudos por ter-se apaixonado por uma mulher.

“Pedi licença da vida religiosa, mas o desejo vocacional do sacerdócio continuou no meu coração e fui resolver a vida secular, e nos casamos. E tive dois filhos. Isso se tornou impeditivo para voltar à formação dentro da Igreja Católica Romana, na qual eu teria que ser apenas um diácono. Continuei meus estudos por conta própria e foi quando, em 2010, conheci dom Georges Gaidhos que é arcebispo da Igreja”, explicou o agora também bispo.

Segundo dom Léo, com o Movimento Continuante ele ficou sabendo que “era possível viver o ministério ordenado mesmo sendo casado”. “Comecei a minha caminhada, terminando minha a formação no movimento”.

Há um ano e meio o movimento inaugurou o Mosteiro Cristo Rei para a formação de novos membros na região do bairro Vista Verde, na zona leste de São José dos Campos. A meta era “ampliar o reino de Deus e trazer essa nova forma de pensamento católico”.

Santuário.

Com a expansão, surgiu a ideia de criar a Diocese Cristo Rei que compreende as 39 cidades do Vale. Dom Léo contou que o mosteiro ficou pequeno e deu lugar ao Santuário Cristo Rei, um espaço de celebração no Jardim Satélite, na zona sul, para até 150 pessoas.

O local, que foi inaugurado no domingo (8), realiza missas de “cura, milagres e libertação” regularmente. “Então não pode perder essa oportunidade única de receber o seu Milagre!”, diz postagem dado bispo no Instagram, onde tem 140 mil seguidores.

A abertura do Santuário provocou o posicionamento da Paróquia Espírito Santo, que também fica na região sul de São José. Em postagem nas redes sociais, a igreja afirmou que o santuário não tem ligação com a Igreja Católica.

“O intitulado ‘padre/dom Léo Assis’ não pertence ao clero, e o ‘mosteiro/santuário Cristo Rei’ não está em comunhão com a Diocese de São José dos Campos e com a Igreja Católica Apostólica Romana”, disse escreveu o padre Rogério Felix, pároco da Paróquia Espírito Santo.

Diocese.

Procurada pela reportagem, a Diocese de São José dos Campos, por meio da assessoria de imprensa, informou que a nota da Paróquia Espírito Santo “está em comunhão com a Diocese”.

Dom Léo criticou o tom da nota da Paróquia Espírito Santo, classificando como “maldade” a colocação de que ele seria “intitulado” padre.

“Não acordei e decidi ser padre. Eu passei pela formação e fui legitimamente ordenado na Igreja”, afirmou. “Mas não é a Igreja Católica Romana, que não é a única que Jesus criou”.

E completou: “A Igreja Católica Apostólica Romana não é a única fundada por Cristo. É Igreja de Cristo, mas não é a única. Não queremos dividir, mas construir pontes”.