O deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL) afirmou que há “chances” de o impeachment contra o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite, ser aprovado pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). A declaração foi dada nesta segunda-feira, 9, durante entrevista ao programa A Hora É Essa! da Rádio Difusora AM 1030 kHz.
O pedido de impeachment foi protocolado na última sexta-feira, 6, com apoio de outros 25 parlamentares da esquerda (PSOL, PT, PCdoB, Rede e PSB). Cortez, que disputou a Prefeitura de Franca em 2024, justifica que o secretário descumpriu a Lei de Crimes de Responsabilidade Administrativa ao não punir seus subordinados envolvidos em atos de improbidade. “O Derrite não só deixou de punir os agentes da Secretaria de Segurança Pública que cometeram abusos policiais, como ele próprio incentivou”, afirmou o deputado.
Os abusos citados referem-se a episódios de violência policial amplamente noticiados nas últimas semanas no estado de São Paulo. “O sadismo dos vídeos que vimos – como o de uma pessoa sendo jogada da ponte, de outra sendo alvejada com 12 tiros pelas costas, e de uma idosa sendo agredida com um cassetete – extrapolam os limites da razoabilidade. Isso furou a bolha, e uma parcela maior da sociedade passou a ver o que realmente acontece na política de segurança pública do Estado”.
Segundo reportagem do G1, publicada na sexta-feira, 45 policiais militares foram afastados de suas funções – e dois foram presos – nos últimos 30 dias, em casos que ganharam repercussão por terem sido gravados por câmeras de segurança ou celulares.
Para Cortez, essa política de segurança pública “não é acidental”. Ele responsabiliza Derrite e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) pela violência policial. “Ao invés de reprimir essas atitudes, o governador e o secretário fazem declarações que influenciam, apoiam e valorizam abusos. O secretário Derrite já afirmou que policial que não mata ninguém deveria ter vergonha. Quando o Tarcísio foi denunciado pela ONU pela violência policial na Baixada Santista, ele disse que não estava nem aí e que podiam levar ‘para a Liga da Justiça ou para o raio que o parta’”, criticou.
Sobre o tema, Tarcísio reconheceu ter tido uma “visão equivocada” sobre o uso de câmeras corporais nas fardas policiais e, após os recentes episódios, afirmou estar “completamente convencido” de que as câmeras são instrumentos de proteção da sociedade e dos policiais. O governador garantiu que o programa será ampliado, com a compra de mais equipamentos tecnológicos, que podem ser acionados pelos agentes ou à distância. Tarcísio também criticou a conduta dos policiais envolvidos nos casos de violência.
Cortez, no entanto, mantém o ceticismo. “Como sempre espero o melhor das pessoas, torço para que haja sinceridade na fala do governador. Mas é difícil acreditar quando essa política de segurança pública, como eu disse, não é acidental e não parece ser um mero escorregão do governo”.
O parlamentar reconhece a dificuldade em aprovar o processo de impeachment, mas faz ressalvas. “O governador tem uma base sólida na Assembleia Legislativa, boa parte dela mantida através do dinheiro de emendas parlamentares. Contudo, esse episódio abriu um espaço de pressão da opinião pública sobre os deputados, e vimos parlamentares da base governista constrangidos com as cenas que vieram à tona”.
Esse é o nicho que o PSOL pretende explorar na Alesp. “É sobre esses deputados que vamos atuar, buscando dar encaminhamento ao processo de impeachment, com a pressão e participação da sociedade civil. Tem chance, tem”, concluiu Cortez.