04 de dezembro de 2024
'OPERAÇÃO APAE'

Sete são presos acusados por desvios milionários na Apae

Por André Fleury Moraes e Bruno Freitas | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Larissa Bastos/JC Imagens
Polícia prende 7 por desvios na Apae e Justiça determina bloqueio de 18 bens

Sete pessoas foram presas pela Polícia Civil de Bauru na manhã desta terça-feira (3) acusadas de se beneficiarem, direta ou indiretamente, de desvios de valores dos caixas da Apae do município. A diligência foi denominada "Operação Apae" pelas autoridades.

Entre os detidos estão a irmã e a filha de Claudia Lobo, Ellen e Letícia Lobo respectivamente, além do ex-marido Pérsio Prado - pai de Letícia - e do cunhado (marido de Ellen), Diamantino Campagnucci.

Também foram presos Renato Tadeu de Campos, policial militar reformado e ligado a uma empresa de segurança, Maria Lúcia Miranda, contadora e coordenadora financeira da Apae Bauru, e Renato Golino, ex-coordenador financeiro da Apae.

Maria Lúcia ainda atuava na entidade. O JC questionou a Apae na noite de ontem (3) sobre se ela participou da sindicância que a instituição disse ter aberto em agosto, mas não obteve retorno.

Roberto Franceschetti Filho, ex-presidente da Apae e acusado de assassinar Claudia Lobo, também foi alvo do mandado - mas ele já está preso desde agosto, tendo sido recentemente transferido para Guarulhos.

A Polícia não localizou um nono envolvido, Felipe Figueiredo Simões, cuja prisão também foi decretada. Ele deve se apresentar à Polícia hoje (4), afirmou seu advogado.

Todos são investigados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

A chamada Operação Apae foi conduzida conjuntamente pelo delegado Glaucio Stocco, titular do Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold) e responsável pela investigação que apura desvios milionários na entidade, junto à Deic.

Também foram recolhidas armas e celulares, através de mandados de busca e apreensão cumpridos em 18 endereços. Segundo o delegado, as prisões temporárias, válidas por cinco dias, foram concedidas pela Justiça para que as investigações continuem em andamento sem intercorrências.

Ele aponta para uma organização criminosa instalada na Apae, inclusive com envolvimento de empresários, com divisão de tarefas.

Chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o delegado Ricardo Dias afirmou à imprensa que vai pedir o levantamento do sigilo imposto sobre as investigações. Enquanto não pode fornecer detalhes, porém, ele já adiantou que os valores desviados da Apae Bauru serão revelados à população e "são de assustar".

O advogado que representa os familiares de Claudia Lobo informou que uma audiência de custódia será feita nesta quarta-feira. O JC não localizou a defesa dos demais envolvidos até a conclusão desta edição.

Bloqueio

Além das prisões, a Justiça também decretou 18 bloqueios de bens, entre pessoas físicas e jurídicas, no âmbito das investigações relativas ao caso Claudia Lobo.

Segundo o delegado Glaucio Stocco, a medida visa justamente garantir o ressarcimento da Apae, alvo de desvios de verba por um grupo de pessoas apontado por ele como organização criminosa.

"Fizeram a Apae sangrar em milhões de reais", acrescentou o chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Ricardo Dias.

Parentes

Todos os parentes de Claudia Lobo presos na operação desta terça-feira (3) prestavam serviços à entidade. A filha Letícia Lobo e Pérsio, seu pai e ex-marido da ex-secretária executiva, nem contrato formal tinham, segundo a Polícia Civil.

Causou estranhamento na equipe o fato de Letícia ter renda de aproximadamente R$ 2.500,00 e ainda assim, somente neste ano, ter viajado à Disney três vezes. Já Ellen Lobo e o esposo dela, Diamantino, seriam proprietários de uma empresa em Agudos, que emitia notas frias para a Apae.

Também há suspeita nesse sentido envolvendo uma empresa de limpeza, que teria recebido depósito na ordem de R$ 120 mil ao mesmo tempo em que não há comprovação, segundo a Polícia, de que o material tenha sido realmente entregue ao almoxarifado.

O setor era supervisionado por Dilomar Batista, também denunciado por ocultação de cadáver no âmbito do assassinato da ex-secretária.

Arma

Um "arsenal" de armas foi apreendido com o policial militar aposentado, que fazia a segurança para a Apae. Ele foi autuado em flagrante pelo problema. Possuía, inclusive, algumas de uso restrito.

Durante a operação, que contou com 62 policiais, também foram apreendidos joias e celulares, muitos deles iPhone 15, que eram comprados pela entidade e entregues a alguns funcionários.

Apae diz que soube de prisões pela imprensa e ressalta auditoria

Em nota encaminhada à imprensa, a Apae Bauru disse ter recebido pela imprensa as informações sobre as prisões e declarou que aguardará uma coletiva de imprensa da Polícia Civil prevista a princípio para hoje (4).

A Apae também comunicou que a perícia contábil e financeira está em andamento e, assim como as investigações, segue em caráter sigiloso. O levantamento foca no período da gestão de Roberto Franceschetti Filho, que abrange os anos de 2022 a 2024.

Por fim, a instituição enfatizou que colabora e confia no trabalho da Polícia Civil, esperando em breve poder fornecer mais informações. Também agradeceu à imprensa por seu esforço em colaborar e preservar a imagem da Apae Bauru.

"É crucial compreender que os fatos foram cometidos pelas pessoas envolvidas, e não pela instituição. Assim, ressaltamos que a Apae Bauru continua prestando serviços de excelência aos seus usuários nas áreas de Assistência Social, Educação e Saúde", finalizou a nota.