Com a proximidade das celebrações de fim de ano alguns sentimentos que antes permaneciam latentes afloram anunciando quais serão as motivações que nortearão as festas.
Todo fim de ano corremos em busca de algo muitas vezes ainda não compreendido por nós, mas que se traduzem em excessos ou faltas que nos comunicam algo relativo à nossa própria subjetividade.
Então o papai Noel ressurge como presença associada à alegria, trazendo em sua simbologia a manifestação do amor concreto ao oferecer uma escuta atenta diante de tantos pedidos que lhe chegam, cumprindo seu papel e depois se recolhendo, são tantas as crianças que desejam vê-lo querendo lhe pedir algo.
Pensando no papai Noel e nas formulações de Freud, é possível notar o quanto ambas estão em relação estreita com a lógica do inconsciente de Freud e no inconsciente estético contido na figura do papai Noel que, simbolicamente, reivindicam a parte emocional e sensível das pessoas considerando o quanto as manifestações da mente, corpo e cultura influenciam a percepção e compreensão do mundo e como percebe-las poderia reforçar ou mesmo desafiar as estruturas existentes no sentido de extrair a essência que cada festa traz consigo e que nos convoca à reflexão de seu significado.
Sempre é bom lembrar que a presença do papai Noel reforça em nós desejos infantis que querem seus pedidos atendidos e que mascaram angústias que carregamos desde sempre, mesmo quando não compreendemos suas nuances.
Como foi a própria infância, como desejamos a vida para os filhos, para quem preparamos a festa e o que tudo isto tenta nos comunicar.
Os símbolos contidos nas festas de dezembro, independente da religião, nos convidam a pensar nas fontes inesgotáveis da partilha quando proporcionamos alegria para os outros, e na manifestação concreta do papai Noel, o seu grande legado é trazer alegria, generosidade, amor, desejos atendidos, penso eu porque ele transformou suas neuroses em algo possível de ser traduzido, deixou de lado as próprias dificuldades, e foi ao encontro do outro.
Papai Noel chega em muitos lares, alegra muitas crianças, também a que mora dentro de nós que se traduz na alegria que sentimos quando vemos uma criança feliz abrindo o seu presente. É intraduzível o que sentimos, ali tem um pouco de tudo, também de nós mesmos.
Este papai Noel entendeu as coisas, e mesmo sem dizer nada, encanta. Era filho de pais ricos, ficou órfão ainda jovem e decidiu doar toda a sua herança aos pobres se tornando o protetor das crianças.
O que me encanta é que podemos ser o papai Noel de alguém quando decidimos sê-lo ao partilhar por exemplo um pouco do nosso tempo com quem necessita sentir o amor, concretizando os pedidos de tantas crianças, visitando um idoso ou alguém que nos espera, dando um presente para uma pessoa que nos pediu algo que necessita, enfim, são tantas as maneiras de celebrar, tantas quanto a nossa criatividade for capaz de pensar quando, entendendo o significado das festas que se aproximam, nos escutamos e estabelecemos estreita relação com nós mesmos e com o que acreditamos.
Tive um jardineiro por uns 20 anos que todo ano me pedia para eu avisar o papai Noel que ele queria uma "carninha e linguiça para assar, e duas latas de cerveja". Por anos este foi o meu presente para ele, acrescido de outras coisas para que ele e sua esposa pudessem ter uma festa digna.
Não tenho mais aquele jardim, e este ano o meu jardineiro faleceu um ano depois de sua esposa falecer, mas o que ficou? A generosidade que puder perceber enquanto ele tratava do meu jardim com tanto carinho e o fato deste pedido dele ter me proporcionado por anos ser o papai Noel que ele esperava encontrar em suas festividades, mesmo depois que eu não tinha mais aquele jardim, mas até a sua partida. Este papai Noel entende das coisas, é um gênio! Boas festividades a todos!
Música: "Driving Home for Christmas", com Chris Rea.