Durante os últimos dois séculos, o brilho dos diamantes foi motivo de cobiça e riqueza em Franca. Hoje conhecida como a "Capital do Calçado e do Basquete", a cidade teve um papel fundamental como centro estratégico de comércio e lapidação de pedras preciosas, o que não só alimentou o fascínio por suas riquezas naturais, mas também moldou o desenvolvimento econômico da região.
Segundo o professor Pedro Geraldo Saad Tosi, especialista em história econômica da Universidade Estadual Paulista, o início desse ciclo remonta às práticas dos entrantes e bandeirantes nos séculos XVII e XVIII. Esses desbravadores, motivados pela busca de enriquecimento rápido, abriram caminhos entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, ocupando o território com o objetivo de explorar as riquezas minerais.
“Os entrantes e bandeirantes perseguiam as riquezas do interior do Sudeste brasileiro, práticas típicas do período conhecido como o século da mineração", explica Tosi.
Franca, nesse contexto, surgiu como um ponto estratégico. Enquanto os bandeirantes desbravavam as rotas, os demais se fixavam no território, atraídos pelos fatores geológicos e pelo relevo favorável à mineração.
A cidade se tornou um importante centro de comércio de diamantes, com destaque para a movimentação comercial na Praça Barão, no Centro de Franca.
“Além de ser um ponto de passagem no processo de ocupação do território, a mineração de diamantes gerou um processo autônomo de acúmulo de riqueza, independente de incentivos governamentais”, acrescenta Tosi.
Apesar de Franca ser central no comércio de diamantes, a maior parte das pedras preciosas foi encontrada em cidades vizinhas, entre São Paulo e Minas Gerais. De acordo com estudos da Divisão de Geologia e Recursos Minerais do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), as primeiras descobertas ocorreram em Patrocínio Paulista, às margens do Rio Santa Bárbara, seguidas por garimpos nos rios Sapucaizinho e Canoas. Registros históricos indicam que ao menos 11 municípios da região participaram da extração, com destaque para as 146 áreas potenciais de garimpo em Patrocínio.
Outro aspecto que diferencia Franca no ciclo da mineração foi o desenvolvimento da lapidação de diamantes. Essa habilidade, refinada pelos moradores locais, permitiu que as pedras extraídas alcançassem mercados de longa distância, agregando ainda mais valor e ampliando as possibilidades econômicas da região.
“Diamantes lapidados tornaram-se produtos de comércio de longa distância, o que trouxe uma autonomia econômica raramente vista em outros locais do Brasil naquele período", observa Tosi.
No entanto, como em outras regiões do Brasil, o ciclo da mineração em Franca não durou muito tempo. A exploração das riquezas minerais, como já ocorrido em outros lugares, foi passageira. "A mineração é um processo efêmero, e em Franca não foi diferente", diz o professor. Mesmo com o declínio do auge da mineração, a cidade preservou o legado das pedras preciosas, com suas técnicas de lapidação e comércio.