Quando teve o diagnóstico de câncer de mama, aos 33 anos, Mariana Basaglia não conseguia levantar da cama sem ajuda. Por causa da metástase óssea, sentia os ossos estalarem sempre que se movia. Mas com tratamento oncológico e exercícios físicos, ela voltou a ter autonomia do próprio corpo.
Logo depois de descobrir o tumor, em 2023, a advogada fez hormonioterapia e radioterapia, para reduzir a dor e eliminar as células cancerígenas que estavam espalhadas em vários ossos.
Quando foi liberada para fazer atividades físicas, depois de dois meses de tratamento, Mariana precisou começar do zero. "Eu procurei um personal e a primeira coisa que falei para ele foi 'eu preciso reaprender a levantar dos lugares', porque era como se eu não tivesse mais força no abdômen", conta.
Recuperada a mobilidade, ela também conseguiu voltar à estatura normal, já que o tumor ósseo causou a perda de três centímetros de altura. Com exercícios de alongamento, ela recuperou o 1,71 m.
Com essa rotina de exercícios, com musculação e bicicleta ergométrica, a fadiga e náuseas causadas pelos medicamentos, inclusive da quimioterapia, também foram reduzidas. "Me sentia muito melhor depois de fazer as atividades, era um alívio no final do dia."
Mariana segue em acompanhamento médico porque o câncer é metastático, ou seja, não tem cura. Nesses casos, o tratamento prioriza melhorar a qualidade de vida do paciente e impedir que a doença se espalhe ainda mais.
Um estudo publicado recentemente na Nature Medicine mostrou que uma rotina de exercícios físicos recorrentes e supervisionados reduziu a fadiga e melhorou a qualidade de vida de pacientes com câncer de mama metastático.
A pesquisa analisou 357 pacientes da Austrália e países da Europa com idade média de 55 anos. O programa de atividades físicas da pesquisa consistiu em treinamento personalizado duas vezes por semana com exercícios de resistência, aeróbicos e de equilíbrio.
Oncologista especialista em câncer de mama do Hospital Nove de Julho, Bruna Zucchetti afirma que a atividade física ajuda a manter o peso corporal e a massa muscular e óssea das pacientes, o que também previne o avanço do tumor.
"As pacientes oncológicas precisam manter a força e se manter ativas para conseguir fazer as atividades diárias durante o tratamento oncológico. A ideia é que tenham uma vida o mais normal possível", diz.
A médica detalha que durante a quimioterapia, a mulher ainda pode apresentar um transtorno chamado de chemobrain, em que sofre com episódios de esquecimento e falta de concentração.
"Nesses casos, a atividade física é o principal tratamento para evitar que surja o chemobrain e, quando ele surge, para que elas consigam melhorar o mais rápido possível."
Com os exercícios, também há menos riscos de recidiva do câncer após a cura ou mesmo durante o tratamento oncológico.
Renata Arakelian, oncologista do Hospital Santa Paula, afirma que as Sociedades Brasileira e Americana de Oncologia Clínica recomendam fazer 150 minutos de atividade física por semana, incluindo musculação e atividade aeróbica, como caminhada e natação, por exemplo.
"A gente frisa a necessidade de fazer a musculação, além do aeróbico, porque tem um impacto muito positivo na qualidade de vida das mulheres."
Fisioterapeuta no Hospital Sírio-Libanês, Juliana Morelli ressalta que os exercícios aeróbicos também são ótimos para as pacientes em tratamento contra o câncer de mama, porque aumentam a energia e podem até reduzir a dor.
Segundo Morelli, que atua no cuidado multiprofissional ao paciente oncológico, os exercícios de ganho de mobilidade e amplitude de movimento, como alongamento e pilates, também são importantes para a paciente, principalmente para as mulheres que fizeram cirurgia e, posteriormente, radioterapia.
"Essas pacientes muitas vezes cursam com cicatrizes aderidas e síndrome do cordão axilar [formação de cordões fibrosos na axila, ombro e braço], então é muito importante realizar exercícios de flexibilidade", diz.
Os exercícios não podem focar somente no braço. Para a fisioterapeuta, deve-se fortalecer o tronco, abdômen e pernas, que são músculos importantes do corpo.
No caso de pacientes que passaram por cirurgia para remoção total ou parcial das mamas (mastectomia), a rotina de atividades físicas é imprescindível. Mas deve-se ficar atento à intensidade do exercício, tendo orientações de um médico.
Para quem fez mastectomia, pode ocorrer o surgimento de linfedema (inchaço) no braço. "A mulher deve fazer musculação com o braço operado, mas, claro, respeitando o período de cicatrização do pós-operatório imediato. Quanto mais massa muscular ela tiver nos braços, menor é o risco de ela desenvolver o linfedema", afirma Renata Arakelian.
(Esta reportagem foi feita em parceria com o Hospital Sírio-Libanês)