29 de novembro de 2024
COLUNISTA

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 4 min
Bispo Emérito de Bauru

Se alguém dentre os cristãos ouvir dizer que Deus é rei dirá estar ouvindo uma afirmação evangelicamente correta, mas, dentre os homens sem fé de ontem e de hoje alguém dirá que é politicamente incorreta. Pois essa questão é o que ouviremos colocada no Evangelho da santa Missa deste domingo através do diálogo entre Pilatos e Jesus, Jo 18,33-37. São João afiança categoricamente que Cristo é Rei, embora diga que seu reinado não é deste mundo, portanto, que não segue os padrões humanos cuja razão de ser é empreender ações e decisões em função do domínio temporal e político. Seu reino, explica o apóstolo, é de outra natureza, seu domínio é espiritual, consiste em testemunhar a verdade para conduzir os homens à verdade suprema. Nesse diálogo Pilatos questionou Jesus: "Então Tu és rei?" Jesus respondeu: "Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz!" Como sabemos, a verdade é Deus mesmo, e Jesus a revela na morte da cruz por amor. A cruz é a expressão do amor maior de Jesus que deu a sua vida por nós. Ela é a revelação mais perfeita da verdade de Deus e sobre Deus: Deus é amor. Em decorrência, São João, no Apocalipse 1,5, afirma que Cristo é a "Testemunha fiel, Rei dos reis da terra". Sem o querer, Pilatos acabou confirmando o que Jesus disse, ao ordenar que inclusive fosse afixado no alto da cruz em que Ele foi martirizado o título de "INRI - Iesus Nazarenus Rex Iudeorum". Sem dúvida Deus é um rei diferente daqueles que conhecemos na história. Jesus é um rei singular. O mistério da realeza de Jesus é paradoxal, confunde a cabeça de muita gente, mas integra todos os seus mistérios. Resumidamente, entende-se que alguém é rei quando concentra todo o poder e riqueza, de tal modo que se impõe sobre tudo e todos pela força. Jesus é o rei que não se impõe nem pelo poder nem pelo dinheiro. Sua força se estabelece pela verdade, sua atração e fascínio pelo amor: "Quando for levantado da cruz, atrairei todos a mim". Vem dEle a força que triunfa pela verdade que liberta e pelo amor que salva. Da primeira leitura da santa Missa, Daniel 7,13-14, vem o anúncio da chegada do filho do homem, o Messias Salvador, o rei que está acima de todos: "A quem foram dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviram: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá". No fim dos tempos, como está no Prefácio da santa Missa, "Ele entregará à infinita majestade divina este reino eterno e universal: reino de verdade e de vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz". Na segunda leitura, o Apocalipse diz que "Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Este Jesus todos o reconhecerão, Ele é o Alfa e o Ômega, o Senhor da História que instaurou um reinado novo: "Fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai, a Ele pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos" (Ap 1,5-8).

Na Liturgia deste domingo encerra-se o Ano Litúrgico de 2024. No outro domingo começará o Advento que nos preparará para o Natal. Na Igreja, o Ano tem Jesus no começo, meio e fim. Começa com a Encarnação, o Natal, transcorre-se recordando os mistérios da vida de Jesus que culmina com a Páscoa e termina com a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, assim como é celebrado neste domingo em todo orbe. Natal lembra presépio, Páscoa lembra calvário, fim de ano lembra Cristo Rei. Eis o itinerário da realeza de Jesus: do presépio pelo calvário para a glória. Por isso Cristo é Rei, tudo foi criado por Ele e para Ele. Pela verdade e pelo amor Ele tornou-se Senhor da história, da morte e da vida, portanto, que diante dEle todo o joelho se dobre. Neste mundo de maldade, injustiça e corrupções nós os cristãos somos chamados a reinar com Cristo vivendo neste mundo como Ele nos propôs à semelhança dos grãos de trigo que crescem no silêncio e se doam a si mesmos rumo à colheita, para produzir frutos de bem e desta forma chegar um dia à glória do céu. Na história de Deus tudo termina na glória, sob o reinado eterno de Cristo.