29 de novembro de 2024
OPINIÃO

A necessidade de livros e da escrita

Por Adilson Roberto Gonçalves |
| Tempo de leitura: 1 min
O autor é pesquisador na Unesp – Rio Claro

Se o ChatGPT ou outra ferramenta análoga pode escrever um texto parecido com este, por que eu me esforço tanto para criá-lo? Sim, já fiz tal experiência e o resultado surpreende à primeira vista. Com um pouco de atenção, dá para perceber que se trata de algo artificial, cheio de chavões e faltando aquilo que os crentes chamam de alma. Eu chamo de essência.

A pergunta se estende para a necessidade de escrevermos e lermos livros ou ainda para mantermos e consultarmos arquivos com textos antigos. Isso leva a outra essência, a da descoberta de textos inéditos ou quase desconhecidos, que é esclarecer o processo criativo dos escritores que formaram nossa base cultural. Recentemente o escritor Brian Clery faz exatamente isso em relação ao autor de "Drácula", Bram Stoker, ao encontrar texto de 130 anos quase esquecido em uma biblioteca. Ah, como gostaria que nossa Biblioteca Nacional revisasse a fundo a digitalização de sua hemeroteca, com tantos buracos e material indexado erroneamente. É muito boa, mas seria perfeita como fonte para tais achados de nossa literatura brasileira.

Por outro lado, livros poderão ser apenas objeto inerte de decoração, descapados que estão sendo. O decifrador da língua portuguesa Sérgio Rodrigues ficou indignado, com razão, e nos deixou apreensivos com o descaso bibliográfico ao revelar que vandalizar livros, retirando-lhes a capa, é a última moda na decoração de espaços "modernos". Se livro virou decoração, então pouco importa se terá capa ou não. Em um país que lê cada vez menos, a celulose em folhas servirá apenas para alimentar fogueiras de vaidades e de ideologias.