21 de novembro de 2024
COLUNISTA

O significado das fossetas!

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC
Fossetas pré-auriculares (A e A’), fossetas de Stieda (B), fossetas comissurais (C e C’) e as fossetas congênitas da porção mediana no lábio inferior (D)

Mais de 50% das pessoas têm, e nem notam, dois orifícios de 0,5 a 2mm, um em cada lado da linha média entre o palato duro rosa e o palato mole alaranjado. São chamados de fossetas palatinas ou forames de Stieda, um cirurgião alemão que em 1893 fez um maravilhoso trabalho de caracterização do palato. Quando se descobre estas fossetas, o portador fica preocupado e quer saber o que significa e o que pode acontecer. A ele deve ser explicado que são pequenos defeitos, sem qualquer evolução ou significado.

As fossetas de Stieda tem fundo cego e não produz secreções, embora possa ter ductos de glândulas salivares menores que até drenam muco por elas. Juntos com dois acadêmicos na época, Hélcio Campos Caixeta e Nilson Alves de Carvalho, analisamos 350 pessoas que aleatoriamente chegavam ao serviço de saúde onde trabalhávamos na Universidade, e encontramos uma frequência de 51,7% dessas fossetas.

Em 10% destas 350 pessoas, encontramos fossetas comissurais como pequenas depressões no canto da boca, só vistas quando abrimos a boca ao sorrir, quando se expõe o canto da boca. São bilaterais, mas eventualmente podem estar só de um lado. Raramente drenam saliva. Também encontramos algumas pessoas que apresentavam fossetas discretas na região pré auricular da pele, geralmente bilaterais e secas.

Essas fossetas palatinas, comissurais e pré auriculares nada significam do ponto de vista clínico e só podem incomodar pela estética. Não malignizam e não evoluem para outras situações. Não requerem tratamento, apenas orientação, e por questões estéticas, podem ser retiradas.

E FOSSETAS NO LÁBIO INFERIOR?

Elas são menos frequentes, mas eventualmente encontramos fossetas de até 1,5mm na região média do lábio inferior. Quase sempre são bilaterais e tem alguns milímetros de diâmetro e profundidade. Os pacientes nasceram com elas e na maioria dos casos saem discretamente saliva pelo local, pois algumas glândulas drenam por elas. Ao redor dos orifícios, o tecido fica levemente elevado pelas glândulas salivares que os rodeiam, deixando-as bem evidentes.

Estas fossetas congênitas na parte média do lábio inferior tem um grande significado clínico na vida destas pessoas, mas muitas nem sabem disto, infelizmente. Elas representam um fortíssimo marcador de pessoas que ao ter filhos, podem tê-los com fissuras labiais e ou palatinas, com risco 10 vezes maior do que os próprios portadores de fissuras. Estes pacientes têm defeitos genéticos já identificados.

Quando o paciente tem fossetas de lábio inferior e também a fissura labiopalatina, este quadro se chama Síndrome de Van der Woode, que é hereditária dominante e se expressa muito intensamente na família comprometida. Alguns membros destas famílias tem apenas as fossetas e, boa parte, tem as fissuras.

Pode ser muito importante para estas pessoas, sutilmente, questionarmos se elas têm consciência do valor biológico, clinico, familiar e pessoal daquela expressão clínica. Depois disto, o ideal será encaminharmos os portadores para um Serviço de Atendimento de Pessoas com Fissuras Labiais e ou Palatinas que existe em quase todos os estados do país! As fossetas médias no lábio inferior serão removidas, voltando ao normal.  A família será orientada quanto às futuras gerações e, os portadores de fissuras labiopalatais tratados.

REFLEXÃO FINAL

Fossetas na linha média entre o palato duro e mole, nas comissuras labiais e na região pré-auricular não apresentam qualquer repercussão clínica, mas as fossetas congênitas no lábio inferior são marcadores biológicos de família comprometida com fissuras labiopalatinas em várias pessoas e em filhos que virão. Elas podem estar precisando de ajuda e orientação. Façamos nossa parte!