A Polícia Civil de Bauru identificou quatro membros de uma associação criminosa especializada no chamado "golpe do chupa-cabra", em que as vítimas têm seus cartões bancários retidos em caixas eletrônicos por um equipamento e, após contato com uma falsa central do banco, informam suas senhas aos golpistas, dando a eles todos os mecanismos necessários para realização de saques e compras no nome da pessoa. Apenas em Bauru, segundo a polícia, entre fevereiro e setembro, o grupo teria feito 17 vítimas, que sofreram prejuízos da ordem de cerca de R$ 100 mil.
De acordo com o delegado Alexandre Protopsaltis, coordenador do Setor de Investigações Gerais (SIG) da Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Bauru, as investigações, realizadas com apoio de medidas cautelares sigilosas, revelaram que os suspeitos aplicavam os golpes em agências de uma única instituição financeira, que não possui a autenticação por biometria em todos os terminais, sempre durante os finais de semana, quando não há atendimento presencial nas unidades, e que cerca de 90% das vítimas eram pessoas idosas.
A preparação do golpe, segundo o delegado, incluía a colocação de papéis na tela de alguns terminais, com a frase "em manutenção", para obrigar os usuários a usar as demais máquinas, onde dispositivos plásticos eram instalados. "Na hora em que a pessoa insere o cartão, ela não consegue mais retirar", conta. "Naquele telefone 0800, que é a central de atendimento do banco, os criminosos colocam adesivo com número falso. O cartão fica retido, a pessoa liga para o 0800 e eles confirmam algumas informações e pedem a senha".
O coordenador do SIG revela que todas as vítimas que tiveram os seus cartões retidos foram orientadas a procurar a agência na segunda-feira seguinte para buscá-los. Pelo fato de a grande maioria ser idosa, e não ter o costume de utilizar o aplicativo do banco, o crime só era percebido nesse retorno. Com os cartões e as senhas em mãos, os criminosos, todos vindos da capital paulista, faziam saques em terminais 24 horas de estabelecimentos comerciais, onde o limite é de R$ 1,5 mil, e em agências do banco, com limite de R$ 2 mil.
A partir da identificação e do monitoramento dos suspeitos, que vinham para Bauru pelo menos uma vez por mês, o delegado representou à Justiça pela expedição de mandados de busca e prisões temporárias de três pessoas. Um dos alvos, junto com comparsa, foi preso em flagrante no último dia 26, com R$ 6,8 mil, após aplicar golpe em uma agência na Duque de Caxias e fazer saques bancários com cartões da vítima. Os dois tiveram as prisões preventivas decretadas na audiência de custódia.
Nesse caso, de acordo com Protopsaltis, após ter o cartão retido, a vítima foi orientada pela falsa central de atendimento a inserir um segundo cartão para que, por "segurança", os dois fossem bloqueados. Além de saques no valor de R$ 1,5 mil de cada cartão no terminal 24 horas, e de saques no valor de R$ 2 mil, também de cada um, em uma agência bancária, os golpistas ainda fizeram duas compras em nome da vítima, no total de quase R$ 10 mil. O prejuízo dela foi de R$ 17 mil.
Outro mandado de prisão temporária foi cumprido nesta quarta-feira (30), na capital, em desfavor de uma mulher de 27 anos, companheira de um dos presos no sábado. Já o alvo do terceiro mandado de prisão temporária, segundo o delegado, foi capturado em flagrante recentemente por furto mediante fraude em Ribeirão Preto, e também está preso preventivamente. "A gente identificou, durante as investigações, que eles também praticaram crimes em Jaú, Rio Claro, Itu e Tietê", ressalta.
O inquérito da Polícia Civil, que foi concluído nesta quinta-feira (31) e relatado à Justiça, teve como foco, neste momento, as pessoas que atuavam diretamente na prática do golpe. Eles irão respondem pelos crimes de estelionato qualificado (fraude eletrônica) e associação criminosa. De acordo com o coordenador do SIG, as apurações devem prosseguir visando à identificação de outros envolvidos, sobretudo os que fazem parte das falsas centrais telefônicas.