29 de novembro de 2024
OPINIÃO

Dentro da Terra eu Aprendi

Por Manu Saggioro |
| Tempo de leitura: 2 min
Cantora e compositora

No 21 de outubro de 2024 se "encantou" nosso maestro e professor George Vidal. Um ser humano extremamente amoroso, competente e de enorme sabedoria. Tive um ou dois anos de aula com George na Escola Clave de Sol entre 2009 e 2011. Eu já havia terminado minha graduação no instrumento guitarra na USC (hoje Unisagrado), onde tive ótimos professores, mas como meu tempo de faculdade foi entrecortado por viagens, faculdade de Letras e muitas descobertas pessoais, as matérias não me envolviam tanto...e eu queria me aprofundar na música com um mestre que lecionava a partir do coração mas também com uma ótima didática. (Eu já tinha, naquele momento, o imenso privilégio de tocar ao lado de outro grande mestre que foi Norba Motta) mas o George teve um outro caminho e eu sentia que seria bom pra mim. A Clave era mais que uma escola, era uma família de amor. Os alunos eram como filhos. A gente entrava e se sentia em casa.

Quando iniciei minhas aulas com o George, achei que ele fosse me encher de tarefas, explicações e teorias para aparar arestas e também para amalgamar alguns conteúdos que estavam pairando meio soltos sobre mim. Mas as aulas eram tão cósmicas, tão abrangentes e cheias de literatura, filosofia e espiritualidade que jamais me esquecerei do dia em que, ao fim da nossa hora preciosa, ele sugeriu que eu chegasse na chácara onde morava e cavasse um buraco na terra. Era para eu cavar um buraco onde eu pudesse entrar dentro pelo menos até a cintura e me cobrir com a terra. Era para eu entrar dentro, me enterrar até a cintura e ficar ali mais ou menos durante uma hora.

Escutei sua sugestão entusiasmadíssima porque eu sou essa pessoa que entende a potência das subjetividades. Saindo no corredor ele encontrou outra aluna e achou que para ela aquilo também seria bom e sugeriu que fizéssemos juntas. Na mesma tarde a Débora foi em casa e, na força do braço, abrimos dois buracos de um metro de profundidade e nos enterramos ali. O que havia de música nisso? Pra mim, tudo. Especialmente quando precisei assentar, incorporar as aprendizagens. Na época eu era ainda mais "Vata" do que sou hoje. Ele não sabia disso a partir de um conhecimento ayurvédico mas me "via". E o olhar do George era profundo. Depois daquelas últimas aulas, eu precisava de muita terra pra acomodar aqueles ensinamentos.

Ele via como cada um era capaz de aprender. Qual a linguagem e as vivências adequadas pra cada pessoa. Isso não é coisa de qualquer professor. Sua passagem pela terra chacoalhou estruturas. Coisa de Mestre.

Eu aqui agradeço e abençoo, através do meu afeto, a existência do nosso querido George! Salve, George!