A apresentação da historiadora e cantora Tertuliana Lustosa, durante um Seminário na Universidade Federal do Maranhão, abordava o tema que ela intitulou de "Educando pelo cu". Durante a performance, a oradora rebolava com a saia levantada e o traseiro voltado à plateia, mostrando uma calcinha vermelha fio dental. Cantou um brega funk cujos versos diziam: - "Vou te ensinar gostoso dando aula na sua pica. Aqui não tem nota nem recuperação. Não tem sofrimento, se aprende com tesão, de quatro e cu, cu, cu."
O vídeo viraliza nas redes sociais e abre acirrada discussão nos meios acadêmicos e fora deles. A pergunta que se faz é se uma universidade pública pode abrigar uma manifestação desse tipo. Universidade vem do latim universitas, que significa universalidade ou totalidade. Seria um local dedicado ao cultivo do saber e do conhecimento - ou da ignorância. Daí, respondo à pergunta: Pode. Mas nem tudo que pode, deve.
A pesquisadora que performou com a dancinha erótica, é autora de um "Manifesto Traveco-Terrorista". Segundo a notícia, é travesti e defende a liberdade do corpo e do prazer, "pelas suas potências pedagógicas e artísticas". Foi aplaudida.
O professor Wilson Gomes, da Universidade Federal da Bahia, entende que "o cu é, acima de tudo uma metáfora para o que é marginalizado, reprimido e considerado sujo pela sociedade". Ou seja: a jovem oradora teria se utilizado de "um espantalho retórico à sociedade conservadora".
Freud talvez dissesse que essa moça está com a fase anal em atraso. Esse período de desenvolvimento humano deve ocorrer entre um e três anos de idade, quando a criança começa a utilizar o banheiro e sente o fascínio da zona erógena do ânus.
A reitoria até defende que a universidade seja um lugar de múltiplas formas de conhecimento. Os cursos possuem autonomia para discutir vários temas que permeiam a sociedade, mas tudo pautado pelo respeito. Em nota, disse estar averiguando o ocorrido e que tomará providências assim que todos os envolvidos forem ouvidos.
O episódio repercutiu no Parlamento e ouriçou os bolsonaristas que há tempos acusam a universidade de consumirem bilhões de reais em verbas públicas, para desperdiça-las em proselitismo e libertinagem. A mãe que passa dias e noites incentivando o filho para que estude e passe no Enem, deve estar preocupada pela formação da sua criança diante de um palco de ativismo político e comportamento permissivo.
Os ativistas buscam construir para si uma identidade como subversivos, portadores de uma verdade ameaçadora para a burguesia. A direita encontra munição fácil para propagar sua agenda ideológica diante de ataques à moral tradicional. Até mesmo perfis da esquerda, de fora da política, condenaram a ação. A vulgarização gratuita do ambiente acadêmico só contribui para enfraquecer a reputação da universidade pública.
O caso "educar pelo ânus" serviu para o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol alfinetar Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal. "Não é à toa que o Maranhão, estado que foi governado por 8 anos pelo agora ministro Flávio Dino, tem uma das menores renda per capita do Brasil e há anos apresenta um dos piores desempenhos nos rankings da educação", afirmou. Já que a universidade é pluralista, por que não convidar aquela senhora que foi tão criticada quando performou sobre aborto por assistolia fetal, e causou tumulto no Senado?
Ninguém ousa contradizer que a liberdade de expressão é necessária à vida democrática e, muito mais, à vida universitária. Qualquer censura é odiosa. Pensar em punição dos responsáveis pelo Seminário "Dissidência de Gênero e Sexualidades", seria burrice.
O filósofo francês Edgar Morin, sugere que nos classifiquemos não como homo sapiens, mas como "homo sapiens demens". Somos uns macacos que não apenas "sabem", mas também deliram, criam, creem.