A escassez de profissionais no mercado de trabalho tem impulsionado as contratações formais de estrangeiros em Bauru. De janeiro a agosto deste ano, o saldo de imigrantes atuando na cidade cresceu 15% na comparação com o mesmo período de 2023.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, entre admissões e demissões, eles ocuparam 70 das 4.051 novas vagas geradas no município ao longo destes oito meses, quase 2% do total. Para se ter ideia, no mesmo período de 2021, quando foram gerados 5.097 postos, apenas 46 - menos de 1% - foram assumidos por estrangeiros.
A alta é alavancada principalmente pela contratação de venezuelanos e cubanos. Os primeiros ocuparam 37 vagas criadas em 2024, todas por trabalhadores entre 18 e 49 anos, em sua maioria com ensino médio completo. Eles foram recrutados para atuar em áreas como conservação e manutenção de vias públicas, auxiliar em serviços de alimentação e ajudante de obras, entre outros.
Já os cubanos, a maior parcela com ensino médio completo e idades de 40 a 64 anos, ficaram com 12 postos, em setores como o de instalação de sistemas fotovoltaicos, instalação de equipamentos de transmissão em telefonia e operação de máquinas. Na sequência, em menor proporção, figuram japoneses, colombianos, angolanos e chilenos.
Ainda que, em termos absolutos, o número de imigrantes com carteira assinada seja pequeno, o avanço no saldo de contratações reflete um cenário de queda na oferta de mão de obra. No trimestre encerrado em agosto, a taxa de desemprego no Brasil recuou para 6,6%, o menor resultado para este período do ano em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Já no primeiro trimestre de 2021, o País havia alcançado o índice recorde de desocupação, de 14,9%. Segundo Leandro Joaquim, titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Renda (Sedecon), diferentemente de um passado não muito distante, quando profissionais procuravam a pasta em busca de oportunidades de emprego, agora são as corporações que recorrem ao poder público a fim de solicitar ajuda.
"O cenário da empregabilidade mudou. Hoje, as empresas têm enfrentado dificuldade para conseguir mão de obra e nos procuram para solicitar cursos de capacitação e auxílio a trabalhadores para a formalização de microempreendedores individuais (MEIs). E já existem mais de 46,5 mil MEIs ativos em Bauru. Recentemente, um dono de marcenaria nos procurou e se prontificou a oferecer um curso de marceneiro. É um segmento que será ainda mais impactado com a futura instalação, pelo que soubemos, de cinco grandes indústrias de móveis modulares na cidade", descreve.
Também como exemplo, ele cita uma empresa com 450 funcionários, majoritariamente do sexo masculino, que, diante da dificuldade em encontrar mais 120 trabalhadores, admitiu a possibilidade de recrutar também mulheres. "É uma realidade também influenciada por grandes empresas da região, como a Bracell, que contrata um grande número de profissionais de Bauru", frisa o secretário.
Em meio a este cenário, a Sedecon tem articulado suas ações junto à Cáritas Diocesana de Bauru, que mantém, desde 2022, o Programa de Orientação e Acesso à Documentação Civil e Atendimento ao Imigrante, com oferta de aulas de português e regularização de documentos, incluindo a carteira de trabalho. Com esta colaboração, o estoque de estrangeiros com emprego formal na cidade chegou a 265 pessoas desde janeiro de 2020 - quando foi instituída uma nova metodologia de tabulação de dados no Caged - até agosto passado.