O desrespeito que vem convulsionando de algum tempo para cá com paroxísticas manifestações a sociedade brasileira, atingida em todos os níveis, talvez encontre na classe médica sua maior vítima. Muitos ou quase todos os segmentos sociais viram encurtados os seus caminhos da respeitabilidade, numa aproximação do desrespeito pouco recomendável para o equilíbrio comunitário.
O médico, voltado para a incessante luta da vida contra a morte, vê-se quase segregado pela imposição do seu ministério e não se apercebe das cruéis e perversas situações que podem atingi-lo. Suas preocupações fundamentam-se principalmente na ampliação e aprimoramento dos seus conhecimentos, para cada vez melhor beneficiar os pacientes.
Este médico, muitas vezes isolado em seus próprios aprendizados, tinha como fortalecimento de suas ações o respeito e a admiração de todos. Em muitas oportunidades se demonstrava na figura carismática de alguns e na postura eclética de outros, uma veneração que quase o aproximava de Deus. Suas eventuais participações na vida social eram cercadas de carinho, afeto e um profundo respeito, como um muito que sempre representou a busca de evitar a morte, salvar os moribundos e aliviar a dor. Era o médico orgulhoso de si mesmo, ao ponto de se sentir privilegiado em funções que para a sociedade era um sacrifício.
Furtado em muitas oportunidades da singeleza de emoções que marcam a confraternização dos importantes momentos da vida, jamais se rebelava e quase sempre aplaudia ao chamamento da obrigação inadiável. Nestes momentos, não representava um simples Mercadejador de ilusões, era sim uma fonte de esperança para os pacientes, movidos pela fé e pelo respeito. Era inaceitável qualquer, por mais leve que fosse uma atitude de desrespeito à figura messiânica do médico escolhido.
A sociedade se sentia ofendida e julgava com rigor o desrespeito ao médico. A esta sociedade cabia e cabe, exigir do médico, figura messiânica e carismática, colocado no pedestal do metafísico a sua incorporação ao progresso e conquista da modernidade, porém o desrespeito, não. Seria somente a omissão de uma grande maioria da classe na interminável luta pelos postulados e prerrogativas que a natureza do ministério médico concedem ou fatores de revolta e violência de uma sociedade em convulsão que determinaram o desrespeito? O resgate dos valores que subalternizaram a classe medica brasileira são as conquistas inarredáveis que devemos buscar com imediatas e improcrastináveis ações. O respeito ao médico há de se fazer pelo seu trabalho competente anelado pelo carinho, respeito ao ser humano, e, pelo romance de objetivos comuns que haverá de unir médico e paciente.
Estes passos começam nas escolas, onde a caricatura do ensino vem aterrorizando os mais pétreos e frios incrédulos, num flagrante acidente de descaso pela pessoa humana. Infortunadamente poucas são as escolas médicas que têm a coragem de permitir e até incentivar aos seus produtos finais para submeterem-se a um teste de qualidade. Sem qualidade não há respeito, e, qualidade é competência.
Em nenhum país em que se respeita o paciente, médico algum inicia o seu exercício sem treinamento e sem submeter-se aos testes de qualidade. Somando-se à má formação do médico encontra-se um sistema
de assistência médica malvado, que mente para a sociedade que assiste, que nivela por, baixo e acoberta a irresponsável incompetência.
O desrespeito que a sociedade, hoje, dedica à classe médica é, para nossa tristeza, fruto da desestruturação da assistência médica, cujos baixíssimos padrões vêm retirando da Medicina a sua posição de dignidade e honradez, que a tornaram a mais útil e mais nobre
das profissões. A somatória de uma assistência médica perversa e desonesta, a incompetência acobertada formam o arco-íris do descaso, cujas luzes brilhantes iluminam o desrespeito que a sociedade hoje nos sujeita.