29 de novembro de 2024
OPINIÃO

A tecnologia não é um bem em si

Por Wellington Anselmo Martins |
| Tempo de leitura: 2 min
Doutorando em Educação para a Ciência (Unesp-Bauru)

É surpreendente e pode ser muito útil o avanço tecnológico das últimas décadas. A internet, os celulares, as redes sociais, a inteligência artificial, etc., tudo isso tem potencial revolucionário e pode ajudar a fazer circular informações e conhecimentos na sociedade, pode inclusive contribuir com o diálogo entre diferentes pessoas e povos e, assim, produzir novos conhecimentos.

No entanto, as novas tecnologias digitais de informação e comunicação não servem somente para promover a educação, a democracia, o jornalismo, etc. As chamadas TDICs também podem estimular discursos extremistas, vícios por jogos, excesso de exposição pública... Os mais jovens são alvos especiais desses malefícios que as novas mídias podem gerar. Alunos de ensino médio e graduação, entre 15 e 25 anos de idade, podem ser muito prejudicados em sua vida pessoal e profissional caso façam um uso excessivo e inconsequente da internet.

Por isso, é importante que pais, professores e políticos, que a sociedade como um todo, debatam meios para disciplinar e regular o uso das TDICs especialmente entre os mais jovens. O ambiente escolar, por exemplo, na escola básica e na faculdade, deve ser um espaço de liberdade intelectual e, por isso mesmo, não combina com os vícios do ciberespaço: distração, memes, extremismo político e religioso, games, hipervigilância (excesso de propaganda, câmeras por todos os lados, coleta constante de dados pessoais, desvalorização do direito à privacidade...) e hiperexposição (necessidades constantes de registro de selfies, busca por likes, pouco cultivo da vida íntima, introspectiva, off, familiar...), etc.

Essa regulação do uso dos celulares deve começar nas famílias, dentro de casa. Crianças e jovens precisam aprender que há um tempo para usar as TDICs e também há um tempo para se livrar delas. Igualmente nas escolas, os professores precisam ensinar que o uso de mídias tradicionais ou novas (jornal e livro impressos, rádio, TV, celular, computador...) tem hora e lugar para serem bem utilizadas. Obviamente não é em qualquer momento, conforme o desejo infantil ou juvenil, que o aluno pode abrir um livro ou jornal aleatórios em plena sala de aula, ligar uma TV particular diante do professor, colocar os fones de ouvido e ouvir a sua rádio favorita em detrimentos dos demais alunos colegas, divertir-se com os últimos memes das redes...

Para o uso pertinente da internet, as escolas e faculdades precisam de laboratórios de informática e bibliotecas organizados para esse tipo de consulta e interação virtuais. Ou seja, o uso devido das TDICs deve ser ensinado por pais e professores, além de ser formalmente regulado pelos políticos. Enfim, não é responsável deixar que as próprias crianças e jovens regulem o seu próprio acesso ao celular, tablet ou computadores. É loucura esperar maturidade de pessoas ainda imaturas; e se os adultos não ajudam no amadurecimento dos mais novos, então condenam muitos da nova geração a manterem esses comportamentos infantilizados pela vida toda. Isto é, se socialmente permitirmos o vício pelas telas desde cedo, será muito difícil depois vermos essas pessoas se libertarem sozinhas.