"É preciso entender o recado das urnas". Os políticos repetem a mesma frase, a todo final de eleição, embora muitos prefiram justificar o mau resultado com um pastoral "Deus assim quis".
O eleitor acerta sempre, mesmo quando erra. Esse aparente paradoxo tem que ser compreendido e respeitado por quem está começando ou pretende ser longevo na política. Aqui em Bauru, a reeleição de Suéllen Rosim (PSD) no primeiro turno não chegou a ser uma surpresa. Obteve 94.314 votos, reconhecida pelos votantes pela sua gestão pragmática, voltada à zeladoria da cidade. A leitura dos números pode demonstrar que os eleitores periféricos - são os que elegem hoje em Bauru - deixaram de se preocupar com a água, escassa em todas as administrações; ou com a fila nos postos de saúde, que sempre existiu. Os que lutam pela sobrevivência escolhem quem melhor pode assisti-los nas suas necessidades básicas. A mudança climática global é um fato. Teremos enchentes, vendavais e estiagens cada vez mais prolongadas. Essa realidade impõe às populações novas prioridades que estão a exigir toda uma logística para minimizar efeitos catastróficos.
O resultado das urnas pede reflexões sobre as causas da grande abstenção ocorrida nas eleições municipais, que não teve o impeditivo de comparecimento do pleito de 2020, sob os efeitos da pandemia da Covid 19. Em Bauru, 86.636 eleitores abstiveram-se de votar - 30,45% dos aptos a votar. Estamos acima da média nacional de 21,68%. A abstenção somada aos votos nulos e em branco (106 mil) supera a votação da reeleita.
Depois de mais de vinte de anos de observação e análises, Neumann descobriu uma "espiral do silêncio", composta por eleitores que não se manifestam, por vergonha ou por medo de contrariar o grupo social a que pertencem, mas que evolui num "continuum". Essa bolha vai estourar.
É preciso resgatar o cidadão sem-candidato. Ele demonstra, com o seu rouco silêncio, sinais de esperança e que está aberto a transformações estruturais. Quer governo mais eficiente, menos prometedor e menos corporativo, porém mais atento aos interesses comunitários.
Quem vota sabe que a cidade depende das relações do seu governante com Brasília. Os Congressistas sequestraram o orçamento da República. A "Emenda Pix" é um prodígio que remete recursos diretamente à conta do município, sem necessidade de projetos específicos. É pra gastar. Em benefício do povo - espera-se. Outro senhor do dinheiro a fundo perdido é o governador de Estado, que não costuma mandar flores a quem não é da sua base política. Bauru ganha com Suéllen apoiada pelo governador Tarcísio de Freitas, que quer se firmar na liderança nacional e como um possível presidenciável.
O voto útil é uma realidade. A escolha recai em candidatos com mais chance de vitória, mesmo que não seja a primeira opção. O povo não gosta de "desperdício", de "perder o voto". Vota-se em um candidato, mesmo com restrições, só para impedir a vitória de um adversário ainda mais indesejado.
As classes populares mandam recados à esquerda. Querem algo novo. Bolsa Família já é uma obrigação. Cotas nas universidades e nos empregos públicos estão consolidadas. Minha Casa, Minha Vida, empregos com carteira assinada, bolsas auxílio significam pouca coisa. Quem sabe as pessoas querem agora empreender, serem donas do próprio destino.
A esperada bipolarização ideológica deixou de acontecer. Lula pouco apitou nessa eleição. O PT não conseguiu eleger nenhum prefeito de capital, no primeiro turno. Faltou prestigio a Bolsonaro para eleger o próprio irmão, candidato a prefeito de Registro. O eleitor bauruense jamais esperou um Pablo Marçal para avacalhar debates, publicar laudos grosseiramente fraudados, levar cadeirada e aparecer descalço para votar na última hora. A campanha também não precisava ser tão insípida.
Entendam o recado das urnas.