21 de dezembro de 2024
COLUNISTA

Eleições Municipais

Por Hugo Evandro Silveira | Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril.
| Tempo de leitura: 4 min

A reflexão sobre a relação entre cristãos e governos, especialmente em tempos de eleição, é crucial não apenas para os fiéis, mas também para a sociedade como um todo. O argumento que afirma que a Bíblia oferece orientações claras sobre a postura cristã diante das autoridades governamentais é bem fundamentado, especialmente ao destacar passagens como Romanos 13 e 1 Pedro 2. Esses textos bíblicos fornecem uma estrutura sobre a submissão às autoridades e o papel de governantes em promover a justiça. No entanto, há nuances que precisam ser consideradas ao discutir o papel do cristão no cenário político e a forma como as Escrituras são interpretadas nesse contexto.

O dilema entre obediência e desobediência civil é central ao debate sobre a relação entre cristãos e governos. Romanos 13 afirma que "toda autoridade é constituída por Deus", sugerindo, em um primeiro olhar, uma obediência irrestrita. No entanto, o mesmo capítulo estabelece que o governo deve promover o bem e punir o mal, o que abre espaço para a desobediência civil quando os princípios divinos são violados. A questão crítica é: como definir "bem" e "mal" de forma objetiva? Infelizmente o passado denuncia que diferentes líderes e movimentos, religiosos ou seculares, manipularam a fé para justificar apoio ou resistência ao governo.

Outro aspecto relevante é o princípio da laicidade e o papel da Igreja na política. Embora a separação entre Igreja e Estado seja fundamental, a Igreja pode e deve oferecer uma influência moral, lembrando os governantes de suas responsabilidades perante Deus. Essa visão se alinha a uma compreensão tradicional da religião como fonte de orientação ética para a sociedade. No entanto, essa postura pode ser temerária em um contexto contemporâneo de pluralismo religioso e cultural. Em sociedades democráticas e laicas, onde coexistem diversas crenças e visões de mundo, a intervenção excessiva de uma única religião nas decisões políticas pode ser interpretada como uma ameaça ao pluralismo e à liberdade de crença. O verdadeiro desafio está em equilibrar a contribuição moral da Igreja com o respeito à diversidade religiosa e ideológica, garantindo que sua influência não comprometa os princípios de um Estado laico.

Essa ideia de que a Igreja deve influenciar a política, alertando os governantes de suas responsabilidades perante o Criador, levanta questões sobre o papel da religião na sociedade contemporânea. Historicamente, a Igreja desempenhou diversas funções públicas, desde o poder teocrático até na separação rígida entre Igreja e Estado. Embora a ética cristã — baseada em justiça, piedade, respeito e amor — possa fornecer uma base moral sólida para os governantes, é crucial que essa influência não transforme a política em um braço da religião. O desafio é orientar moralmente sem comprometer a autonomia do Estado laico, preservando a diversidade de crenças e respeitando os princípios democráticos. Em um mundo pluralista, essa separação é vital para impedir que a fé se torne um instrumento de controle e imposição.

Fato é que teremos eleições municipais nesse domingo, e a reflexão sobre a relação entre cristãos e governos é relevante e se faz necessária. A Bíblia oferece princípios que podem guiar a postura cristã em relação às autoridades. Por exemplo, ela adverte contra governos que usurpam o que legitimamente pertence às pessoas, enfatizando que a posse dos bens é, em essência, individual e não coletiva ou estatal. Assim, a interferência governamental na economia deve ser limitada, favorecendo um ambiente de livre mercado. Essa estrutura promove benefícios como maior qualidade de produtos e serviços, garantindo que empregadores e trabalhadores possam escolher o que é mais adequado às suas necessidades. Ao mesmo tempo, as Escrituras afirmam que o papel do Estado deve se concentrar em situações de extrema necessidade e na assistência aos mais pobres, promovendo meios para que possam alcançar independência econômica.

Bauru terá mais uma oportunidade valiosa com a nova administração para alcançar o que há muito se espera: ordem e progresso, promovendo prosperidade em diversas áreas. O apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 2.1-3, nos ensina a orar pelos governantes, para que possamos viver em um ambiente de paz, piedade e integridade — qualidades que agradam a Deus. Diante disso, é essencial que os novos líderes governem com justiça, promovam os direitos de todos e zelem pelo bem-estar e dignidade humana, sempre conscientes de que suas ações serão julgadas pelo Criador. Que Deus guie as escolhas dos cidadãos de Bauru e inspire seus governantes a exercerem seus deveres com compromisso ético e responsabilidade, em prol do bem comum.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL

62 anos atuando Soli Deo Gloria