02 de outubro de 2024
FALTA DE ÁGUA

Bauruenses se organizam e criam turnos para obter caminhão-pipa

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Guilherme Matos
Na região noroeste da cidade, população enfrenta o problema de falta de água pela primeira vez de forma mais severa (mais fotos no final)

A cena se repete diariamente há pelo menos uma semana: caminhões-pipa estacionam e o morador voluntário do dia recebe o veículo para abastecer sua caixa de água e a dos vizinhos. Cerca de 60 casas no Jardim Vânia Maria foram afetadas, pela primeira vez de forma tão severa, pelo racionamento que atinge mais de 100 mil pessoas em Bauru. Os moradores relatam ao JC que eles recebem água de um poço na região, mas tiveram os recursos hídricos "desviados" por uma interligação feita com o bairro Bela Vista. Frente ao desafio, eles passaram a se organizar em turnos para receber caminhões-pipa e contornar, minimamente, o problema.

A maior parte dos moradores envolvidos no revezamento, mesmo os aposentados, ou trabalham ou precisam realizar consultas médicas e outras questões que poderiam deixar a casa vazia na chegada do caminhão-pipa. Por isso, eles estabeleceram que um morador deve ficar de prontidão para receber a água e ajudar a distribuí-la entre as caixas de água do local. Eles contam, ainda, que é necessário que fique um homem para subir no telhado e colocar a mangueira do caminhão para abastecer o reservatório. Isso porque os funcionários do Departamento de Água e Esgoto (DAE) são orientados a não subir nas casas.

Nesta terça-feira (1) à noite, cerca de 30 pessoas se reuniram em frente a uma residência da rua José Salim Izar para buscar novas soluções para lidar com a crise hídrica que os atinge desde o dia 13 de setembro. Para eles, é uma corrida contra o tempo para solucionar o problema antes das eleições no próximo domingo, dia 6 de outubro. O temor é que, sem a contrapartida do voto, o Executivo e o Legislativo virem as costas para a região e a falta de água no local se torne a nova realidade do bairro. A ocasião acabou se tornando uma manifestação pela água, com cartazes e presença de candidatos.

A reunião aconteceu em frente à casa da gerente comercial Tatiane Robles, 39 anos. Ela recebeu a reportagem e compartilhou as dificuldades impostas pela falta de água, uma rotina nova para ela e seus vizinhos, mas bem conhecida em outros pontos da cidade que fazem parte do rodízio.

Tatiane tomou a dianteira para solucionar o problema. Desde o dia 13, ela usa as redes sociais para pedir ajuda ao Poder Público. Ela conta que, como a falta de água é uma novidade na região, eles só descobriram a possibilidade de receber o caminhão-pipa na última semana, quando iniciaram o esquema de revezamento.

Terezinha de Jesus Oliveira Leandro, 60 anos, vive no local há 18 anos e reafirma ser a primeira vez que o bairro enfrenta uma escassez tão rígida. "Depois que fizeram a interligação a gente tá sem água há 10 dias. Não tenho água para fazer comida nem para tomar banho. Meu marido não tá indo trabalhar porque não tem como lavar a roupa, nem levar marmita. Quem vai pagar os dias que perdemos? Se ele não trabalha ele não recebe", questiona.

Maria Aparecida Perota, 72 anos, vive no local há pelo menos cinco décadas. Ela define a situação como "caótica", principalmente por conta do calor. "Tirar de um lugar e colocar no outro não se faz", afirma sobre a interligação feita com o Bela Vista.

O estudante Denis Costa, 36 anos, divide a casa com outras seis pessoas. Entre elas, adolescentes, crianças e uma idosa. Sem água, eles também enfrentam todos os problemas relacionados à falta do recurso básico. Ele destaca, porém, a dificuldade para contatar o DAE e conseguir o protocolo necessário para solicitar o serviço.

Despressurização

O presidente do DAE, Renato Purini, afirma que o problema estará resolvido já nesta quarta-feira (2). Segundo ele, o desabastecimento aconteceu por conta de uma despressurização da rede. Equipes do departamento trabalharam em uma obra na rua Ayrton Busch para pressurizar novamente a rede e levar a água até as caixas de água do Vânia Maria e do Jardim Petrópolis, onde também há reclamações do tipo.

Ele destaca, também, que o Vânia Maria fica numa área mais elevada das regiões abastecidas pelo reservatório Nove de Julho. Outra questão que piorou a situação foi o desligamento do poço do Roosevelt. Conforme o JC noticiou, o presidente sugeriu que uma bomba foi desligada por conta de sabotagem.

Purini descarta a possibilidade de que a interligação e abastecimento do Bela Vista tenha qualquer relação com a falta de água no Vânia Maria. "O que vai para o Bela Vista é apenas o excedente de alguns poços. Nem é a mesma água que iria para o Vânia Maria", diz. O presidente, porém, não nega que houve um problema para os moradores por conta da despressurização.