A desmoralização da política pelos políticos, como forma de se sobressair numa campanha eleitoral pelo ridículo, não é privilégio de brasileiros e nem dos tempos atuais. Platão já falava em "simulações" como forma de se criar uma imagem sem a correspondência com a realidade.
O filósofo francês Jean Baudrillard, contemporâneo, estendeu esse conceito a "simulacro" que seria a cópia mal feita do modelo real e assim ludibriar os espectadores.
Já se fala em "marçalização" da campanha, no estilo "metralhadora giratória", como se o momento de discutir políticas públicas fosse um tempo de guerra.
O povo prefere se abstrair das queimadas, desde que não chegue perto de casa. Também não importa qual a solução para a crônica falta d´água.
O cidadão quer água, venha de onde vier.
Como candidato à Prefeitura paulistana, Pablo Marçal (PRTB) claramente defende a violência como instrumento de campanha. Quem não tem tempo de propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio, tem que aparecer de alguma forma. E tome cadeirada...
Semana passada, tirei uns dias para rever Florianópolis e as indefectíveis perguntas dos locais eram sobre as eleições paulistanas.
Motoristas de Uber, garçons, recepcionistas, todos faziam questão de encerrar o diálogo dizendo que, se fossem eleitores em São Paulo iriam votar no Marçal. Floripa é a cidade brasileira com a maior prevalência de bolsonaristas.
O escritor Mário Prata, que havia escolhido morar na ilha e ali escrever seus livros sob a inspiração das suas 42 praias, teve que arrumar as malas e voltar, sob a pressão dos "manezinhos", como são chamados os nativos.
Intelectual progressista, Prata nunca fez concessões ideológicas. Na porta do apartamento eram fixados cartazes e bilhetes com dizeres nada amistosos, pedindo que fosse "morar noutro lugar". Até que foi. Antes a pauliceia desvairada.
É sempre presente a indignação de Bertold Brecht, que não tolerava o que ele chamava de "analfabeto político". Dizia que era da "ignorância política que nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante".
E se surpreendia em observar tão pouca gente ao seu redor, interessada em política que não seja essa de "pastelão".
As estatísticas, de fato, comprovam. Basta um número: 64% dos eleitores não se lembram em quem votou na eleição passada.
O articulista Fernando Schüller (Veja), lembra ainda o filosofo libertário americano Jason Brenan que dividia os eleitores em dois grandes grupos: os hobbits e os hooligans.
Os hobbits são seres que habitam a mítica região criada por Tolkien e são discretos e amantes da paz. Os hooligans são aqueles torcedores violentos nos esportes e que tiveram origem no futebol inglês.
Preocupada com o baixíssimo nível da campanha paulistana, a ministra Cármen Lúcia, presidente do TSE, deplorou as "cenas abjetas e criminosas que rebaixam a política e cena de pugilato, desrazão e notícias de crime". E advertiu os políticos para que "tomem tenência".
O termo é antigo e não o ouvia desde quando deixei de ser criança. Mamãe sempre dizia para os filhos, com aquele movimento de chinelo na mão: "Tomem tenência!".
Significa tomar juízo, conter-se, dominar-se. Às vezes vinha um "Tome tento", que está mais para prestar atenção.
As estratégias violentas, como todas as outras, também tem seus limites. Parece que, após cadeirada, soco e sangue à margem dos debates, ninguém saiu do lugar nas pesquisas.
Botar apelido de Goiabinha no governador Tarcísio Freitas, também não adiantou. Goiabinha é verde por fora e vermelha por dentro. No tempo da ditadura chamavam de melancia os militares com viés de esquerda.
Aqui em Bauru, a campanha segue em paz, graças a Deus.
Perdendo ou ganhando, o que nenhum candidato quer é perder a dignidade. Temos alguns simulacros, mas também não podemos esperar uma eleição entre anjos. Políticos, aqui, tomam tento.
Têm tenência.