29 de novembro de 2024
OPINIÃO

Bauru, cidade sem limites no trânsito

Por Marcus Bertolini de Moura |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é professor de geografia – empregabilidade. marcusbmoura77@gmail.com

O trânsito do município de Bauru está um caos. Os condutores não apenas estão desrespeitando o Código Nacional de Trânsito, como também agem sem bom senso, de forma negligente, e com isso colocam em risco a população. Sou motorista habilitado desde 1996 e reparo que algumas infrações estão acontecendo com muito mais frequência. Os motoristas usam o celular enquanto dirigem e param sobre a faixa de pedestres.

O uso de celular enquanto se dirige é responsável pela maioria dos acidentes de trânsito na faixa etária de 20 aos 39 anos, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).

Segundo o estudo, digitar uma mensagem de texto enquanto se conduz um veículo a 80 km/h equivale a dirigir com os olhos vendados por um percurso de até 100 metros. Às vezes tenho a impressão que estamos todos dirigindo com os olhos vendados, hipnotizados por nossos computadores portáteis - uma infração gravíssima, aliás, segundo o Código Nacional de Trânsito.

Outra atitude que demonstra desrespeito ao próximo e acaba tornando as ruas de Bauru mais hostis e menos inclusivas é parar nas vagas de estacionamento para idoso ou deficiente sem que se tenha direito a elas. Pare para pensar e você vai se dar conta que com certeza conhece alguém que precisa dessa vaga especial. Alguém com dificuldade de mobilidade ou uma pessoa idosa, uma mulher grávida.

Hoje é você que está usando essa vaga de forma irregular. Amanhã, se você tiver sorte e envelhecer, é você quem vai precisar dela. Tomara que não tenha um jovem desatento ocupando a vaga destinada a você nesse momento.

Da mesma forma, as pessoas param de forma irregular nas vagas rápidas sinalizadas, que têm um limite de 10 minutos com o pisca-alerta ligado. Também desrespeitam a sinalização de carga e descarga, em vagas destinadas ao uso de caminhões. Pode reparar. Vira e mexe há automóveis ocupando essas vagas. E, o que é pior, consideram-se donas da verdade e acham que tudo bem não cumprir a sinalização.

Nos estacionamentos de supermercados e de shoppings, se repete o mesmo padrão de falta de atenção e respeito. Mais uma vez, desrespeitam as vagas especiais e manobram de forma desatenta ao estacionar ou sair. Já reparei algumas vezes condutores saindo de marcha a ré sem observar o entorno. Com isso, acabam se chocando com pedestres ou com outro automóvel. Outro aspecto importante é o do pisca-alerta quando vai se mudar de faixa ou virar, que serve para alertar outros motoristas, pedestres e motoqueiros. Grande parte dos motoristas esquece desse detalhe tão importante quando está dirigindo e com isso pode acabar provocando algum tipo de acidente.

Outro estudo da Abramet aponta que das dez principais causas dos acidentes registrados, nove foram falha humana. Ou seja, a imprudência, a desatenção e a imperícia são de longe o que mais causa acidentes no trânsito.

Notem que o que estou descrevendo aqui é uma série de desatenções. Por que será que estamos todos distraídos? Temos tanta pressa assim, a ponto de ocupar vagas especiais e prejudicar as pessoas que delas precisam de verdade? Ou estamos cada um no nosso universo particular, pensando no nosso próprio umbigo e ignorando o fato de que o espaço público é um ambiente que precisa de limites saudáveis para que a convivência seja harmoniosa.

Vejam que o que estou descrevendo não é uma Sodoma. Não é que estão todos os motoristas embriagados, dirigindo enlouquecidos.

O cenário está mais para o "Ensaio sobre a Cegueira", do escritor José Saramago. Um ambiente distópico, em que todos acordam cegos um dia.

Dirigir em Bauru, hoje, é como dirigir no meio de cegos. Todos com os olhos vendados pelo celular, pela pressa, pelo desrespeito ou simplesmente pela desatenção ao outro. Abram os olhos, cidadãos bauruenses.

Porque o pior cego é o que não quer ver.