Os bairros de Bauru abastecidos pelo Rio Batalha enfrentam um rodízio rigoroso há 4 meses, mas a situação é ainda pior nas áreas de topografia elevada. Questionado ontem pelo JC, o presidente do DAE, Renato Purini, explica que por conta do tempo que demora para preencher todo sistema de abastecimento com água, algumas residências e comércios nas áreas altas levam até 15h para receber água em suas torneiras.
"Em via de regra, os reservatórios estão no alto e a água desce por gravidade e completa a rede de baixo para cima. No rodízio, as redes de baixo esvaziam e, no dia de abastecimento, a água precisa preencher toda a rede, todas as caixas de água, até a parte alta. Por isso ocorre essa demora", acrescenta Purini.
Ele destaca, porém, que, na maior parte das vezes, a população nessas áreas recebe a água, apesar da demora. "No final de semana foi um pouco mais complicado, com o acirramento da crise hídrica, e em alguns pontos a água não chegou", diz.
O presidente explica que o DAE conta com duas principais medidas para mitigar o impacto dessa problema: a setorização e o "booster". "Na setorização nós dividimos o abastecimento dos grandes setores. Por exemplo, dividimos o setor que comportava o Independência e o Ouro Verde em dois. Antes, a água que vinha do reservatório precisava ir até lá embaixo no Independência, para depois chegar no Ouro Verde. Agora, o abastecimento fornece água um dia para um bairro e para outro em outra data", afirma.
Já o sistema booster consiste em uma bomba que fica na parte baixa e impulsiona a água que passa pelo equipamento para cima. O presidente, inclusive, afirma que aumentou a potência do motor instalado na Vila Falcão.
As torneiras secas em Bauru estão drenando, também, os lucros de comerciantes locais. Conforme noticiou o JC, a falta de água provoca uma série de problemas para a rotina das famílias. No entanto, os empresários também são bastante afetados pelo desabastecimento. Conforme explicou Purini, em partes altas da cidade a água só começa a chegar entre o fim da tarde e início da noite. Empreendimentos que funcionam somente em horário comercial acabam, portanto, passando todo o expediente sem água, por vezes.
"Em um evento no sábado eu estava com a casa cheia e acabou a água. Eu não tinha como lavar os copos, talheres e louças e nem o banheiro. Por isso não podia atender aos clientes de maneira adequada. Quando o DAE chegou no local, todos já tinham ido embora", relata um empresário de 62 anos que tem um empreendimento no Jardim Paulista desde 2022.
Carla Dager, 45 anos, tem uma empresa no ramo de alimentação no mesmo bairro. Ela afirma ter ficado sem água durante toda a semana passada. "Quando chega, é pouco", afirma. A mulher tem um empreendimento há cerca de 4 anos no local e enfrenta problemas do tipo desde que alugou o imóvel. Sem água, ela tem dificuldade para preparar os alimentos, além de sofrer para conseguir higienizar os equipamentos de forma adequada.
Na mesma região, na sexta-feira (13), um restaurante precisou encerrar suas atividades 2h mais cedo, por conta da falta de água.
O empresário e a empresária também relataram dificuldade para conseguir contato com o DAE. O departamento fornece caminhões-pipas, mas é necessário emitir um número de protocolo pelo número 0800. O problema é que, segundo narraram, os telefones estão sempre ocupados e o contato é quase impossível.
Purini, inclusive, afirma que foram 800 ligações somente no final de semana passado, fora as pessoas que tentaram, mas desistiram de insistir. Por isso, o presidente promete implementar, até esta quinta-feira (19), um novo sistema de atendimento.
Agora, quando os munícipes ligarem e os telefones estiverem ocupados, receberão uma instrução por telefone para acessar o site do DAE (daebauru.sp.gov.br/) e fazer uma solicitação online de caminhão-pipa.
O Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão gestor dos recursos hídricos do Estado de São Paulo, deu início aos trabalhos de desassoreamento na barragem de captação do Rio Batalha no último dia 12. A previsão é de que sejam retirados 12.000 m³ de resíduos sólidos do curso d'água, o equivalente a 857 caminhões basculantes. O investimento é de R$ 1,1 milhão.
O Estado de São Paulo registrou entre 2023 e 2024 o menor nível acumulado de chuvas em 24 anos. Segundo o DAEE, o volume de precipitação no período até o momento está 36% menor do que a média da série histórica, iniciada no biênio 2000/2001.