29 de novembro de 2024
OPINIÃO

A fumaça

Por Paulo Cesar Razuk |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é professor titular aposentado do depto. de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp Bauru

Nas cidades passamos as últimas décadas caminhando pelas ruas, rodando pelas avenidas, circulando pelas gôndolas dos supermercados, passeando pelos shoppings, navegando pela internet e acreditando que havíamos encontrado um meio de vida estável, rotineiro e um modo de escapar da agressividade da natureza. Não encontramos. Podemos dizer que, finalmente, a mudança climática está fechando seu cerco em torno de nós.

Parece que hoje vivemos um pesadelo cinematográfico, uma premonição bíblica, uma praga na forma de um tempestade de fogo que faz o caos climático, na forma de fumaça, penetrar em nossas fortalezas mais indevassáveis, nossas cidades e nossas casas. A fumaça nos dá uma sensação de isolamento e de não conseguir escapar. Para onde correr? A fumaça está por toda parte! E, de repente, está ficando cada vez mais difícil nos protegermos do que virá.

E o que vem por aí? Mais estiagem, mais fogo e mais frequentes. O impacto é especialmente dramático quando as chamas devoram culturas e florestas. Quando culturas desaparecem tudo fica mais escasso e caro, quando uma árvore é consumida pelas chamas, libera na atmosfera o carbono armazenado, às vezes, por décadas.

Por isso queimar a floresta gera um ciclo climático com temida retroalimentação - o medo de que as florestas do mundo, normalmente sumidouros de carbono, se tornem fontes de carbono, liberando todo esse gás de efeito estufa armazenado.

O fogo não queima só o Brasil, ele virou uma pandemia global. Há um pouquinho de inferno em cada canto do planeta. E doravante, o ar de todos nós não vai estar apenas mais quente, também será mais sujo, opressivo e carregado de doenças. Não se pode reclamar, afinal foi esse o caminho que a humanidade, sempre crescente e sempre em busca de conforto, escolheu.

A humanidade parece aquele homem galopando em um cavalo em alta velocidade. Se perguntarmos ao homem: "para onde você está indo?" Com certeza ele dirá: "não sei, pergunte ao cavalo!" Esta é a situação da humanidade no momento. O cavalo é a representação de toda essa tecnologia que usamos extensivamente. Ela está nos arrastando e está fora de controle.

A verdade é que, em vez de usar as descobertas científicas e tecnológicas para salvar o planeta, o mercado está usando a tecnologia para satisfazer nossos desejos de consumo e explorar o planeta ainda mais. Nós vivemos em um presente muito estimulado e superlotado. Não temos mais tempo para apreciar a vida.