28 de setembro de 2024
OPINIÃO

Ideias de Graciliano Ramos continuam atuais nas eleições de Bauru

Por José Marta Filho |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor doutor aposentado, na Unesp - jose@martafilho.com.br

As eleições municipais são um termômetro crucial para o funcionamento da democracia. No Brasil, onde a desigualdade social e a complexidade das questões locais frequentemente demandam soluções inovadoras, a atualização das ideias de pensadores e escritores pode oferecer uma perspectiva enriquecedora. Graciliano Ramos, um dos maiores romancistas brasileiros do século XX, cuja obra é marcada pela profundidade de análise social e crítica política, oferece um referencial valioso para compreender e potencialmente melhorar o cenário atual.

Graciliano Ramos, conhecido por sua obra realista e crítica, como Vidas Secas e São Bernardo, abordou com agudeza as contradições e mazelas da sociedade brasileira. Suas observações sobre corrupção, desigualdade e a falta de efetividade das instituições ainda ressoam na realidade das eleições municipais contemporâneas.

Corrupção e clientelismo, temas recorrentes nas obras de Ramos, continuam a ser desafios significativos. Graciliano descrevia como essas práticas prejudicavam a administração pública e perpetuavam a desigualdade. Na atualidade, essas questões ainda são evidentes, e as eleições municipais muitas vezes se veem atoladas em práticas que favorecem interesses pessoais em detrimento do bem público.

A aplicação dos princípios de Ramos pode exigir uma abordagem mais rigorosa na fiscalização e na transparência das campanhas eleitorais. Políticas que promovam a educação política e a participação cidadã são essenciais para reduzir a influência do clientelismo e da corrupção. Assim como Ramos exigia um governo mais justo e eficiente, a sociedade atual deve demandar o mesmo de seus líderes locais, exigindo maior responsabilidade e integridade.

Outro aspecto importante da obra de Ramos é a voz do povo e a representatividade. Em Vidas Secas, o autor dá voz aos personagens frequentemente silenciados. Essa perspectiva pode ser um lembrete poderoso da importância de garantir que todos os segmentos da sociedade sejam ouvidos nas eleições municipais.

A cidade de Bauru exemplifica a importância de atualizar a abordagem política para lidar com as questões locais. A crescente participação cidadã e as demandas por mais transparência e inclusão nas decisões têm sido evidentes.

A administração local precisa adotar mecanismos mais eficazes para assegurar que as vozes das minorias e dos grupos marginalizados sejam representadas nas decisões políticas. Plataformas de participação cidadã, como conselhos comunitários e audiências públicas, podem ser fortalecidas para refletir verdadeiramente as necessidades e interesses da população.

Ramos também enfatizava a importância da educação e da conscientização para uma sociedade mais justa. A educação política é fundamental para que os cidadãos compreendam melhor o processo eleitoral e as implicações das escolhas feitas nas urnas. A promoção de debates políticos, a análise crítica das propostas dos candidatos e a educação sobre os direitos e deveres cívicos são essenciais para uma democracia mais saudável. Mas, o que se vê, na maioria dos eventos, são ataques pessoais desprovidos de ideias construtivas para a cidade.

Além disso, a mídia desempenha um papel crucial na formação da opinião pública e na conscientização sobre questões políticas. A cobertura responsável e a análise crítica dos candidatos e das propostas podem orientar os eleitores e promover um ambiente eleitoral mais transparente e informado.

Atualizar as ideias de Graciliano Ramos nas eleições municipais não significa uma simples revisão histórica, mas uma reinterpretação das lições de seu trabalho para enfrentar desafios contemporâneos. A crítica à corrupção, a valorização da representatividade e a importância da educação política são aspectos que, se incorporados às práticas eleitorais atuais, podem contribuir significativamente para uma administração pública mais justa e eficiente.

À medida que nos aproximamos das próximas eleições municipais, é essencial lembrar que a busca por um governo mais íntegro e representativo, como Ramos aspirava, continua sendo uma tarefa coletiva.

Com uma sociedade mais engajada e informada, como desejado para Bauru, podemos avançar na construção de um sistema político que verdadeiramente reflita os valores de justiça e equidade que Ramos defendia.