Os 206 ossos humanos têm design impecável para atender as funções como absorver e fazer forças nos movimentos. Cada osso tem pleno controle sobre sua forma, graças à rede osteocítica de alta conectividade no interior da massa mineralizada que, para o insipiente, é igual uma pedra.
Nos ossos se inserem músculos e tendões para levar-nos a todos os cantos e encantos. Os ossos participam das cartilagens, tendões e articulações, sem contar que suporta e mantém os dentes para que possamos expressar as emoções. Esse osso é um agregador.
Para não machucar os tecidos moles, os ossos não têm quinas, nem bordas vivas ou estruturas pontiagudas: tudo é liso e arredondado. Quem tem fratura óssea ou esporão sabe a dor que provoca. Depois de uma cirurgia, se o profissional deixar quinas, partes finas e pontiagudas no osso, como se pudesse esculpir à vontade, as células ósseas logo irão reabsorver para arredondar de novo.
Os ossos ainda guardam e protegem o cérebro, coração e pulmões, sem contar que na medula óssea produzem um líquido mágico chamado sangue que nos dá vida, defesa e energia. A dinâmica óssea também é essencial no controle iônico do sangue. O cálcio é vital para a vida com nível sanguíneo rigorosamente mantido e quem participa como reserva mineral, são os ossos, tirando ou guardando os íons.
Em alguns esportes, percebemos que certos ossos ficam maiores e mais mineralizados, para se adequar estrutura e design á atividade feita com repetição nas disputas e treinamentos. Se ficar sedentário, os ossos ficam finos, menos densos e pouco mineralizados.
O que achamos ser duro e resistente, na verdade é maleável, moldável, adaptável e procura atender todas as demandas funcionais que inventamos. A sua resistência vem de sua flexibilidade. Os 206 ossos são excelentes companheiros, mas quase sempre, ignoramos e ficamos a exaltar a pele, cabelos e cor dos olhos. Ninguém faz poesia para os ossos, mas bem que mereciam.
Como o osso consegue ser assim? O esqueleto de adulto jovem se renova por inteiro a cada 4 e 5 anos, e se transforma continuadamente. Pena que não dá para armazená-los, pois sua remodelação se faz a partir do modelo antigo. Literalmente, o osso transparece a necessidade de a cada dia, se adaptar e mudar. O teimoso é um cabeça dura, mas a culpa é do cérebro que não se renova e não é do osso!
A estrutura mineralizada óssea tem milhões de pequenas lacunas do tamanho de uma célula em forma de aranha. Os osteócitos têm 20 a 50 prolongamentos distribuídos na parte dura do osso. Cada uma destas células, conectam-se com outras 20 a 50 células. Imaginem muitas aranhas dando as mãos para outras 20 a 50: se forma uma rede intercomunicante intraóssea.
Quando aplicamos forças nos movimentos, deformamos o osso por esticar ou comprimir esta rede que capta a necessidade e se comunica nesta “rede social celular”, enviando produtos químicos para as superfícies internas ou externas com a seguinte mensagem: mudem a forma atual, precisamos nos adaptar à situação, aperfeiçoem o design. Um show de flexibilidade, adaptabilidade e vontade de servir. Nas superfícies externas e internas os osteoclastos obedecem quando os osteócitos mandam e derrubam revestimentos e paredes. Por sua vez, quando preciso, os osteoblastos obedecem ordens de levantar e reforçarem pilares e estruturas!
Se quiser reforçar o esqueleto, deforme e estique os músculos e tendões para deformar e estimular a rede de osteócitos e determinar um novo design. Mexa-se! Se desanimado e acomodado, os osteócitos não terão estímulos para renovar seus ossos e adaptá-lo ao estilo de vida. Eles ficarão cada vez mais frágeis, menos duro e pouco resistentes: você decide! A metamorfose óssea ambulante chama-se remodelação ou turnover ósseo.
Ainda temos muito que aprender com o corpo! Ossos se remodelam diariamente e se adaptam ao novo com incrível sabedoria. E você, é assim também ou parece mais uma pedra?