29 de novembro de 2024
COLUNISTA

A polêmica sobre mandamentos de Deus e tradições humanas

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

O Evangelho da santa Missa deste domingo - Mc 7,1-8.1-15.21-23 - reúne afirmações de Jesus desmascarando fariseus e mestres da lei na polêmica sobre “puro e impuro”, “vontade de Deus e tradição humana”, ou entre “o essencial e o acessório”. Eles perguntaram a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” A resposta de Jesus foi taxativa: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ... Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens... O que torna impuro o homem não é o que ele come, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas essas coisas más que saem de dentro é que tornam impuro o homem”.

Lembrando o santo Padre o Papa Bento XVI, quando propôs um “Ano da Fé”, que intencionava pedir a todos nós “um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de fato, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história” (Porta Fidei 11).

Para todo cristão, sem dúvida alguma, o essencial é a vontade de Deus, seus mandamentos e sua lei maior do amor a Deus e ao próximo. A pureza do coração está na vivência desta lei do amor, desde um interior da alma limpo das más intenções, imoralidades e de todas estas coisas más, para fazer sempre a vontade de Deus em vista da sua maior glória e do bem de toda a gente. Isto significa viver uma religião pura e sem mancha, a partir do interior do seu coração. Essencial ainda é compreendermos que o nosso maior problema é o pecado que está dentro de nós, não ao que está fora, por exemplo, em relação às estruturas, nem mesmo ao social. Uma chamada para não confundirmos o absoluto com o relativo, o essencial com o acessório.

A primeira leitura da santa Missa - Dt 4,1-2.6-8 - nos recorda que Moisés admoestava o povo de Israel a observar rigorosamente os preceitos do Senhor, nada acrescentando nem tirando, mas guardando-os porque são leis e decretos tão justos quanto Deus é justo. Na segunda leitura - Tg 1,17-18.21b22.27 - São Tiago disse: “Com efeito, a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisso: em assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e em guardar-se livre da corrupção do mundo”.

Setembro é o mês da Bíblia. Ao longo do ano a Igreja prioriza temas com o objetivo de avivar a vida de oração e as ações pastorais no âmbito dessas prioridades. Agosto foi mês vocacional, outubro será mês missionário etc. Tudo isso para levar a Igreja a cumprir eficazmente a sua missão evangelizadora no mundo. A Igreja está convidando mais uma vez os seus fiéis a aprofundar o conhecimento e o amor aos Livros Sagrados, a Palavra de Deus escrita, motivando-os à sua leitura diária, atenta e piedosa, e a precaverem-se contra os erros com relação à sua mal interpretação. Neste ano as comunidades são convidadas a refletirem sobre o Livro de Ezequiel. A Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elaborou um subsídio para orientar o caminho da Igreja no Brasil neste mês de setembro, iluminado pelo lema “Porei em vós meu espírito e vivereis” (cf. E 37,14). São oferecidos como materiais de apoio o texto-base e um livreto com encontros bíblicos que serão promovidos pelas nossas Paróquias. Santo Agostinho ensinando sempre que o ponto central da Bíblia é Jesus Cristo e que o Antigo Testamento é preparação para a sua vinda e o Novo, a realização do seu Reino, dizia: “O Novo estava latente no Antigo e o Antigo se esclarece no Novo”.