28 de setembro de 2024
OPINIÃO

Meu avô, João Nakata

Por Camila Mayumi Nakata Osaki |
| Tempo de leitura: 1 min

O som do toque no altar e o terço budista nas mãos, ele rezava todas as noites para seus antepassados. Em seguida, fazia a contabilidade da pastelaria em sua escrivaninha. Eu ficava a espera até que ele terminasse "de fazer as contas" para poder ter sua atenção. Ele me contava lendas japonesas, me ensinava a desenhar pássaros e a cantar cantigas japonesas.

Aos domingos de manhã, era corriqueiro escutá-lo cantando enka (música tradicional japonesa). Ele gostava de praticar karaokê e, às vezes, tocava violão ou gaita sentado em sua poltrona. Quando estava inspirado, fazia um belo ikebana (arranjo de flores) para enfeitar a sala. Eu sempre o admirei pelo seu nível cultural e apego pela leitura, apesar de ter tido pouco tempo de estudo formal. Meu ditian (avô) era exemplo de dedicação.

Costumava dizer que o trabalho o colocava em movimento, e que isso o mantinha vivo. Tive o privilégio de ter vivido boa parte da minha vida bem perto de sua presença, em uma casa que compartilhava o mesmo quintal com a casa dos meus avós.

Quantos ensinamentos que eu pude receber deles e quantas boas lembranças de infância. A despedida é uma parte difícil e triste da vida, mas o amor continua.

Saudades de você, ditian.