28 de setembro de 2024
OPINIÃO

A medalha e o leão mordendo

Por Gregório José |
| Tempo de leitura: 2 min
Jornalista

Imagine, caro leitor, a cena: o atleta brasileiro, após anos de suor, lágrimas, contusões e não poucas orações, sobe ao pódio olímpico em Paris. Sob os holofotes do mundo, a medalha brilha no peito, mas mal o hino nacional termina e lá vem a Receita Federal com sua calculadora afiada, pronta para abocanhar uma parte do prêmio. A medalha de ouro ainda reluz, mas o brilho da vitória já começa a empalidecer diante da sombra longa do leão.

Sim, o leão da Receita, que nunca se contenta com pouco, até que foi generoso ao deixar a medalha em paz. Afinal, segundo ele, a medalha é "uma joia preciosa obtida no exterior", mas não se preocupe, atleta, você não precisa declarar essa conquista metálica, pois está isenta de impostos. Mas e o prêmio em dinheiro? Esse, meu amigo, esse vai ter que passar pelo crivo implacável da Receita Federal. O Governo Federal, com seu zelo quase maternal, já reservou sua fatia do bolo.

Rebeca Andrade, por exemplo, saltou, girou, voou como ninguém e, em troca, ganhou R$ 826 mil por suas medalhas. Que maravilha! Mas, claro, o leão da Receita Federal já está com o garfo na mão, pronto para pegar sua parte, mastigar e engolir R$ 227 mil desse esforço todo. Afinal, o leão também tem apetite e parece que treina salto triplo na hora de taxar.

E não pense, caro leitor, que é fácil escapar desse leão. A Receita Federal é aquela tia chata que você nunca convidou para a festa, mas que sempre aparece, pede o melhor pedaço do bolo e ainda critica o gosto da cobertura. O atleta rala, se consagra, e o governo vai lá e mete a mão. O que era uma vitória nacional vira um "conto do vigário fiscal".

E aqui estamos nós, os humildes espectadores dessa tragicomédia tributária. Sabemos que o país precisa de impostos, mas será que não dava para deixar nossos heróis olímpicos respirarem? Talvez devêssemos criar uma nova modalidade olímpica: o atletismo tributário. Quem sabe assim, entre saltos e arremessos de burocracia, conseguimos escapar da mordida do leão.

Até lá, ficamos com o consolo de que a medalha, pelo menos, não será taxada. Só falta agora a Receita Federal anunciar que o suor derramado no pódio, por ser considerado líquido precioso, também deve ser declarado. Afinal, no Brasil, o lema parece ser: "Ganhou, paga. Ganhou muito, paga mais ainda." Parabéns, atleta, e bem-vindo à realidade tupiniquim.