11 de agosto de 2024
LIÇÃO DE VIDA

Pai aprende braile em projeto e vira 'professor' do filho


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Divulgação
Arthur com o pai Edmilson quando iniciou o curso de braile

Quando Arthur nasceu, durante a amamentação, sua mãe Maria José dos Santos desconfiou que algo estava errado com a visão do filho. O bebê tinha dificuldade em encontrar o bico do peito. Foram muitos médicos e exames até chegar ao diagnóstico. A criança tinha amaurose congênita de Leber, um tipo de retinose pigmentar, doença progressiva, ainda sem cura, que leva à cegueira. O pai, o professor de matemática Edmilson Gonçalves, que de imediato teve muita dificuldade para aceitar a condição do filho, passou a pesquisar tudo que envolve a doença e a inclusão de pessoa com deficiência visual. Foi assim que ele, que mora em Craíbas (Alagoas), chegou ao projeto Enxergando o Futuro, que começou em Duartina (38 quilômetros de Bauru) e, hoje, ensina braile de graça e a distância por uma plataforma online.

Para incentivar Arthur, que já estava com 7 anos, a fazer o curso, Edmilson decidiu também se matricular. "O Arthur já estava com baixa visão. Meu objetivo era prepará-lo para o futuro, para facilitar a alfabetização e a vida dele. A metodologia é muito boa, mas o Arthur não se motivou muito. Ele acabou saindo do curso, mas eu continuei e aprendi a ler e a escrever em braile. Depois, na escola que frequenta, o Arthur começou a aprender braile e agora está evoluindo. Já forma algumas palavrinhas. E eu o ensino em casa. Inclusive, o ensino a escrever com a reglete, que não tem na escola dele", relata.

Assim, Edmilson tornou-se professor auxiliar do filho, que hoje está com 9 anos e enxerga bem pouco, apenas com o olho direito. O menino está em processo de alfabetização e leva uma vida normal, garante o pai. "Como ele nasceu com a doença e a perda da visão é progressiva, o Arthur é uma criança que brinca, que corre, anda de bicicleta, que faz judô, jiu-jítsu e tudo o que uma criança da idade dele faz. Ele vai se adaptando ao resíduo de visão que lhe sobra", conta.

E não parou por aí. A dedicação à causa do filho levou Edmilson a fazer especialização em educação especial para deficiência visual e a buscar uma instituição para obter o diploma do curso de braile. "Sou professor de matemática e amo o que faço. Não pretendo deixar de dar aula dessa disciplina, mas quero sim empregar meu conhecimento de educação especial para ensinar tanto matemática quanto física - estou me formando em física - e, futuramente, desenvolver um projeto voltado à formação de professores em educação especial e de apoio aos alunos com deficiência visual em parceria com escolas", planeja.

São por estórias assim que Daniela Reis Frontera, fundadora do projeto Enxergando o Futuro, que também tem retinose pigmentar, afirma que vale muito a pena todo trabalho ao longo dos últimos cinco anos. O projeto nasceu em 2019, em Duartina, de forma presencial. Na pandemia, migrou para a plataforma online e expandiu a atuação. Atualmente, o curso de braile está ao alcance de todas as pessoas com deficiência visual ou baixa visão, gratuitamente. Hoje, atende alunos do Brasil e também brasileiros que moram em Portugal, África e Inglaterra.

Para Daniela, o braile é de grande importância para a autonomia e inclusão social dos cegos e das pessoas com baixa visão. "Eu costumo dizer aos meus alunos e nas palestras que ministro que há três pilares para nós, pessoas com deficiência visual, ganharmos autonomia, vivermos melhor e conquistarmos nosso lugar no mercado de trabalho. O primeiro é aprender a ler e a escrever em braile, o que permite continuar os estudos e obter diploma. O segundo é aprender a usar a tecnologia assistiva, que agrupa dispositivos e técnicas, como leitores de tela e programas de computador, que convertem o texto em áudio. O terceiro é a Orientação e a Mobilidade, também conhecida pela sigla OM. A orientação é a capacidade de perceber o ambiente, saber onde estamos. A mobilidade é a capacidade de nos movimentar", enumera.


Daniela Reis Frontera lendo braile