A vida às vezes nos prega peças. Assim como o rei que na mitologia via muitos pratos e bebidas saborosos mas não podia ingeri-los, assim por vezes a vida oferece às pessoas mil promessas e planos e logo em seguida os retira. Assim aconteceu conosco, meu irmão. "O homem põe e Deus dispõe", diz o ditado. Todos os planos que você alegremente fez para quando eu brevemente estivesse ao seu lado desmoronaram da noite para o dia. Você me queria ao seu lado para, nas suas palavras, "construir um paraíso" para mim.
E eu te queria ao meu lado para cuidar de você, já velho e alquebrado de tantas dores físicas e morais. Mas o destino nos separou de vez, repentinamente, sem nos dar sequer a chance de nos despedirmos.
Dizem que quando alguém parte devemos alardear suas qualidades para que pesem no seu julgamento. Aqui estou, meu irmão, para cumprir este costume.
Falar do meu irmão é fácil e prazeroso, pois ele era uma pessoa que reunia quase todas as qualidades morais: íntegro, leal, correto, digno, sincero, altruísta, honesto, amoroso, inventivo, etc. Além disso amava a Natureza e a terra, dedicando-se à plantação com desvelo. Amava também os animais, a Música e a Ciência, inúmeras são as lembranças de seus filhos aprendendo com ele sobre química, física, eletrônica, etc., tudo no mais alto nível. Grande admirador das obras divinas, tenho certeza de que amava o Salvador e Seu Pai, assim como toda a sua família e o seu próximo. Era querido por muitas pessoas pois não fazia distinção entre elas, e ajudava quem precisasse mesmo sem poder fazê-lo.
É muito difícil encontrar pessoas assim, são agulhas no palheiro. "Se todos fossem iguais a você/Que maravilha viver". Bem, resta despedir-me de você, querido irmão Mílton Mauad de Carvalho Câmera. Que o Salvador te acolha de braços abertos, te protegendo e te fazendo feliz para sempre.
E que um dia possamos estar juntos, desta vez no Paraíso que você tanto sonhou me dar. Que o Eterno te abençoe, irmão querido.