14 de agosto de 2024
ANÁLISE

Fofoca ou Informação: Internação de Silvio Santos e o jornalismo

Por Fabrício Correia | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Historiador e professor universitário
Reprodução
O apresentador Silvio Santos, ícone da televisão

A cobertura da mídia sobre a internação de Silvio Santos, aos 93 anos, é um retrato claro do sensacionalismo que permeia o jornalismo de celebridades. Desde que foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no dia 1º de agosto de 2024, Silvio Santos se tornou o centro de uma tempestade midiática. O tratamento dado ao caso pelas mídias de fofoca não só expõe a privacidade da família Abravanel, como também explora a ideia da morte iminente de Silvio, algo que, devido à sua idade avançada, acaba sendo utilizado como um catalisador de cliques e visualizações.

Perfis de fofoca no Instagram, como “Choquei”, “O Dia”, "Alfinetei", "Fofoquei" e "Gossip do Dia", com milhões de seguidores, têm ganho cliques consideráveis com a cobertura da situação de Silvio Santos. Essas páginas são conhecidas por venderem posts patrocinados e, muitas vezes, por não sinalizarem claramente que se trata de publicidade paga. A falta de transparência, combinada com a disseminação de desinformação, contribui para uma narrativa sensacionalista que amplifica a gravidade da condição de Silvio, muitas vezes sugerindo que sua morte é iminente.

A "Contigo!" postou uma atualização sobre a internação de Silvio, destacando como suas seis filhas – Cíntia, Silvia, Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata Abravanel – continuam suas rotinas diárias, apesar da situação do pai. A cobertura de suas atividades diárias, que incluiu desde passeios de iate a shows de música, foi retratada como se as filhas estivessem despreocupadas. Este tipo de narrativa insinua, de maneira sensacionalista, que a família não está se importando, colocando-as no centro de um furacão midiático.

A idade avançada de Silvio Santos é um fator explorado de maneira alarmista. A mídia de fofoca frequentemente sugere que sua morte é iminente, alimentando a ansiedade do público e incentivando-os a seguir cada atualização com expectativa mórbida. Esse tipo de cobertura não apenas desrespeita a dignidade de Silvio Santos e sua família, mas também cria um ambiente de terror psicológico, onde a saúde de uma figura pública é tratada como espetáculo.

A exploração sensacionalista da condição de saúde de Silvio Santos é um reflexo do pior tipo de jornalismo, onde o sofrimento humano é utilizado como moeda para aumentar cliques e visualizações. A mídia de fofoca, ao transformar a possível morte de Silvio Santos em uma espécie de entretenimento, demonstra uma falta de respeito pela dignidade humana e pela privacidade das pessoas envolvidas. A narrativa alarmista e a exposição constante das atividades da família Abravanel são estratégias para manter o público engajado, mas a que custo?

A reflexão crítica sobre essas práticas é essencial para entender o impacto negativo que esse tipo de cobertura pode ter. A busca incessante por engajamento não deve se sobrepor à ética jornalística e ao respeito pela privacidade e dignidade das pessoas. O tratamento dado à internação de Silvio Santos é um exemplo claro de como a mídia de fofoca pode distorcer a realidade e explorar momentos de vulnerabilidade para benefício próprio.

A exploração sensacionalista de momentos de crise não só prejudica as figuras públicas envolvidas, mas também contribui para uma cultura de desinformação e falta de empatia. A mídia deve buscar formas mais éticas de informar o público, priorizando a transparência e o respeito pela privacidade das pessoas, especialmente em momentos delicados como a internação de um idoso de 93 anos.

Ao perpetuar uma narrativa de morte iminente, a mídia de fofoca cria um ambiente de terror psicológico que desumaniza Silvio Santos e sua família. Esse tipo de cobertura não só desinforma, mas também amplifica o sofrimento das pessoas envolvidas, transformando a vida e a saúde de um indivíduo em um espetáculo público. É imperativo que tanto a mídia quanto os consumidores reconsiderem suas práticas e busquem um equilíbrio mais saudável e ético entre o interesse público e o respeito pela dignidade humana.

* Fabrício Correia é historiador e professor universitário