27 de julho de 2024
OPINIÃO

Candidatos vão ter que mudar o povo

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é jornalista

Observadores políticos analisam as eleições municipais de 6 de outubro com base em duas fortes tendências, ambas conservadoras: a) a opção dos eleitores pela reeleição dos atuais prefeitos; b) a preferência por legendas do centro, à direita do espectro político.

Em Bauru, a pouco mais de dois meses do comparecimento às urnas, esperava-se mais animação. Bolsonaro ganhou aqui com mais da metade dos votos, para Presidente. Em termos nacionais, a disputa foi a mais acirrada do pós-redemocratização. Para surpresa, pesquisas revelam que os dois protagonistas, Lula e Bolsonaro, serão cabos eleitorais com alcance limitado e rejeições significativas.

De cada dez eleitores entrevistados, a metade declara não votar, "de jeito nenhum", em candidatos à Prefeitura apoiados por um ou por outro.

"Quem está na cadeira dificilmente sairá dela". A conclusão tem base em pesquisas que tiveram por cenário a disputa nas capitais. Vinte, dos vinte e seis prefeitos disputam um novo mandato e predominam nas tendências. Os que não têm maioria garantem, pelo menos, o segundo turno. O prefeito de Recife, João Campos (PSB), tem 75% das intenções de voto. Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, está 40% na frente dos seus perseguidores.

Desde 2016, 80% dos gestores de capitais dos estados foram reconduzidos ao cargo. Os prefeitos estão sempre expostos à mídia e desde o primeiro dia do mandato trabalham para serem reeleitos. O uso da máquina e alianças partidárias para lotear o poder, influem. A Opinião Pública vê o prefeito como "candidato natural". O arco de apoio político com as coligações dá mais tempo na tevê e no rádio. Prefeito tem equipes treinadas que conhecem os meandros da administração, amassam barro e comem poeira na periferia, conhecem os problemas da cidade, lidam com as dificuldades do dia a dia e chamam pelo nome os líderes de bairros.

O eleitor periférico não está preocupado com "polarização política". Seu voto não é ideológico. Quer proximidade. Alguém que o ouça. Nem precisa resolver. Os investimentos em zeladoria são o ponto forte. Menos de 5% (Datafolha) citam questões como coleta de lixo, falta d´água e transporte coletivo. Segurança e Saúde não são da alçada exclusiva dos prefeitos. Fica fácil o prefeito se justificar dizendo que está tratando disso com o Tarcísio de Freitas e que ele prometeu dar um jeito. Um terço dos pesquisados nem sabe de quem se trata. Os que não concordam com os fatos descritos, como dizia o velho Delfim Neto, "vão ter que mudar de povo", ou então, calçar as sandálias da humildade. "Muitas vezes não é o candidato que ganha, são os outros que perdem" - li em algum lugar. Campanha eleitoral é tarefa para profissionais. Vê-se muito amadorismo por aí. Pouco adianta ter boas intenções, ser honesto e amar a cidade. Essas coisas não se contabilizam eleitoralmente.

Os caciques dos partidos estão preocupados com a eleição municipal que é vista como um trampolim para levar à Presidência da República. Uma espécie de "ensaio geral" com vistas a 2026. O PL de Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto sonha em conquistar 1.000 das 5.521 prefeituras municipais em disputa nos 26 estados. A única cidade onde não existe prefeito é Brasília, Capital Federal.

Entre pentecostais, neopentecostais e católicos entrevistados, a maioria prefere que a disputa eleitoral não seja levada aos cultos. Desaprovam pastores que apoiam e indicam candidatos. Não são bem vistos aqueles que recomendam em quem não votar ou se valham do púlpito para falar em eleições.

Oito em cada dez dizem jamais votar em alguém indicado por pastores, sacerdotes ou líderes espirituais. Melhor deixar Deus de fora dessa briga.