27 de julho de 2024
OPINIÃO

Vamos salvar o planeta?

Por Paulo Cesar Razuk |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é professor titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp - câmpus de Bauru

A edição de abril da revista Pesquisa Fapesp traz interessante artigo intitulado "O Brasil que seca" elaborado pelos jornalistas Marcos Pivetta e Renata Fontanetto. Um conceito importante inserido nesse artigo é a definição do índice de aridez como a relação entre o total de chuva acumulada e a quantidade de água perdida para a atmosfera. Quando a quantidade de água que deixa a superfície (pela evapotranspiração) é maior que a quantidade de água que cai com as chuvas, o índice de aridez é menor que 1. O artigo cita que grande parte do interior do Nordeste tem esse índice entre 0,2 e 0,5, definindo a região como semiárida. No entanto, na divisa entre a Bahia e Pernambuco, há localidades com índice de aridez próximo de 0,2, portanto, foram reclassificadas: passaram para a condição de áridas.

Baseada em estudos do Inpe e do Cemaden, o texto menciona que a tendência dominante é que os lugares secos se tornarão mais secos e os úmidos menos úmidos. A exceção a essa regra são os três estados do Sul.

Saber quando, onde e quanto vai chover é um desafio enorme. Há inúmeros fatores que afetam a distribuição das chuvas: a impermeabilização do solo ou o efeito "ilha de calor" que aparece em zonas densamente urbanizadas, o desmatamento e o efeito do aquecimento global.

Quem pensa que a mudança no clima é lenta, que chega em pequenas fornadas ou ainda que o aquecimento global é uma saga ártica e que se desenrola em um lugar bem remoto, com certeza acredita também em contos de fadas. A mudança climática é rápida - mais rápida, ao que tudo indica, do que nossa capacidade de perceber e admiti-la.

E se você, leitor do JC, ainda tem esperanças de que a mudança climática pode ser revertida por nós, é melhor tirar o cavalinho da chuva (quando ela vier). Esse processo está fora do nosso alcance, além do mais ele se retroalimenta.

Só para citar um exemplo, na medida em que o calor se intensifica, maior é o uso de condicionadores de ar e ventiladores que, hoje, respondem por 10% do consumo mundial de eletricidade. Segundo algumas estimativas, em 2030 o mundo terá 700 milhões de novos aparelhos consumindo energia oriunda, em sua maioria, do carvão. Algo semelhante acontece com o uso do carro elétrico, cada vez mais incentivado sob o pretexto de salvar o planeta.

Depois de quase um século do aquecimento global ser admitido como um problema, ainda não fizemos um ajuste significativo em nossa produção ou em nosso consumo de energia para corrigi-lo ou nos proteger dele.

Apesar de todas as incertezas, decorrentes das inúmeras variáveis que afetam o clima, hoje estamos suficientemente perto para vislumbrar com clareza e com algum grau de precisão, qual será o preço a ser pago por nossos filhos e netos pelo rastro - sempre ascendente de carbono - que deixamos.

Então cabe perguntar: não seria imoral continuarmos nos reproduzindo neste clima? Ou, é uma atitude responsável ter filhos, sabendo que o planeta será muito inóspito para eles? Seria justo para com o planeta povoá-lo ainda mais?

A sensação de sermos especiais no cosmos não é garantia de sermos bons zeladores, mas, pelo menos serve para prestarmos atenção ao que estamos fazendo com esse planeta especial. É preciso apenas olhar para as escolhas que fazemos coletivamente e como resultado dessas escolhas, até o momento, optamos por destruí-lo.