27 de julho de 2024
OPINIÃO

A angústia do longo prazo

Por Reinaldo Cafeo |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

A percepção de quem opera no dia a dia da economia, quer como empreendedor, quer como profissional de empresas, é que no curto prazo as coisas caminham bem, mas há uma angústia quando a visão é de longo prazo. Avaliando os principais indicadores da economia, se as coisas não estão um "céu de brigadeiro", ao menos há resultados positivos. A inflação está sob controle, o crescimento econômico é pequeno, mas está no campo positivo, a taxa de desemprego está controlada, enfim, há uma percepção de que as coisas estão caminhando bem. Então, de onde vem a angústia?

É que a economia não é um retrato e sim um filme. A necessidade de traçar cenários econômicos e impactar nos negócios, posto que a atividade empresarial é de risco, fazem com que outros componentes, além dos indicadores de curto prazo, sejam avaliados. E aí é que a coisa pega.

Não tem como sustentar o crescimento econômico sem que o tripé macroeconômico seja praticado em sua plenitude. Não adianta manter metas rigorosas de inflação, garantir que o câmbio seja flutuante, se a base do tripé não é cumprida: o rigor fiscal.

Se não bastassem os desafios em encontrar formas de zerar o déficit público, há ainda que segurar a "boca" do presidente Lula. Quando tudo parece que vai se ajustar e finalmente um novo horizonte para economia se apresenta, lá vem o presidente reforçar seu pouco apreço ao controle fiscal. Para cada foco de incêndio, saem correndo os bombeiros de plantão.

Por este prisma o olhar do longo prazo assusta. Quem em sã consciência vai investir fortemente em uma economia que terá dois anos desafiadores pela frente? Sim, serão últimos dois anos deste governo, que terá maioria no Banco Central, que terá que se preparar para as eleições de 2026, e indica que a gastança vai continuar. Isso sem falar em Congresso que só vota projetos do interesse do governo, movido a liberação de verbas parlamentares. O dinheiro é curto, e se continuar o "liberou geral" o endividamento público será de tamanha grandeza, que poucos agentes econômicos confiarão que a economia brasileira pode se sustentar ao longo do tempo.

Tudo seria mais fácil e previsível se o governo fizesse sua parte. Não é pedir muito, é só ser mais seletivo e rigoroso na hora de destinar os recursos públicos. Mas, não é isso que se observa e há grande temor que em algum momento a conta chegue.

Considerando o enorme potencial do mercado brasileiro, é de se lamentar que o país perca oportunidades de sustentar seu crescimento, de manter um ambiente de negócios saudável com menor risco, e acima de tudo, com segurança jurídica e econômica.

Infelizmente governo centralizadores como o atual, mesmo tendo errado no passado e confirmando erros de outras economias, como a Argentina, insistem em ir pelo caminho mais arriscado, tentando gerar bem-estar social no curto prazo, mas comprometendo, e muito, o equilíbrio econômico de longo prazo. Ledo engano em pensar que uma coisa invalida a outra. São sim, convergentes.

Angústia é pouco para retratar tantas incertezas, inseridas pelo governo na economia, desnecessariamente.