16 de julho de 2024
OPINIÃO

Escrever é preciso

Por Paulo Neves |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é diretor de teatro e professor

Julián Fuks, colunista do ECOA, fez uma postagem muito importante , citando George Orwell, que se atreveu a elencar hipóteses sobre esse impulso que soma tanta gente há muitos anos: afinal, por que eu escrevo? Porque as pessoas escrevem aqui na coluna Opinião. Porque as pessoas têm um ou dois minutos para lerem o que foi publicado.

Seria puro egoísmo, quem sabe a vaidade de parecer inteligente e perdurar na memória alheia. Fica aquele gostinho de "foi publicada na coluna, agora é para sempre"... As cartas são as mais variadas, desde agradecimentos até o ódio político: desde uma recordação até o lançamento de uma candidatura... e aí vem uma pergunta que não quer calar: será que alguém lê realmente as colunas? Será que as pessoas têm tempo para ler o que aconteceu na rua Gerson França há 50 anos? Será que as pessoas têm tempo para acompanhar os missivistas; os defensores dos fracos e oprimidos; os empedernidos da direita e os sonolentos da esquerda; os esportistas, etc etc etc. Será que não é o mais puro egoísmo. A vaidade de "aparecer como o tal" , "o descobridor dos sete mares", "a cereja do bolo", o amigo rei, o inimigo da rainha. E as fotos? Elas ficam amareladas, elas desaparecem em tempos de selfies, basta apertar um botão do not ou do celular e...acabou! Sem vestígios!

Pergunto com toda a humildade e respeito: será que nós, missivistas, queremos perdurar na memória alheia. Se for verdade, cometemos um erro fatal. Fico pensando nisso, algumas cartas têm o propósito político para as próximas eleições; outras têm o desejo de prejudicar ou abraçar o próximo; outras têm o desejo de mover o mundo, o país, o estado, a cidade em determinada direção.

Será que devo parar de escrever, já que ninguém lê, mas confesso que cresce um desassossego, um vazio, uma sensação de impunidade que sinto na minha solidão, então, me reporto a Fernando Pessoa, que escreveu "Navegar é preciso. Viver não é preciso". Afinal, tudo pode mudar o tempo todo e aí está o grande segredo do saber viver.

A vida é desafiadora, não temos como prever o futuro e descobrir o que irá acontecer amanhã.

Estou escrevendo nesta manhã chuvosa de julho e sei que se pensar no ontem vem a melancolia, a tristeza, o desamparo, a solidão, a saudade, a tristeza. Viver no amanhã desperta ansiedade, estresse e um grande cansaço. Viver no hoje é o ideal mas, não dá, sabemos disso, levando em consideração que esses dias estão muito iguais, basta acompanhar os noticiários recheados de ódio, vingança, corrupção, mentiras, maconha aborto, estupro, chuva, alagamento, tempo, centrão...pode escolher os outros.

Como eu tenho que respirar ainda, procurando viver um dia de cada vez, e como dificilmente compartilho com alguém, vou continuar escrevendo (olhe o ato falho, de volta ao começo) e entregar até um spoiler para o próximo texto: a sociedade precisa de medíocres...