16 de julho de 2024
OPINIÃO

Suspiros literários críticos

Por Adilson Roberto Gonçalves |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é pesquisador da Unesp – Rio Claro

Recentemente, neste espaço, discorri sobre Camões em função da efeméride dos 500 anos de seu nascimento ("Camões, ora pois!", 15-17/6. p. 4). Outras figuras poéticas e literárias pontuaram notícias recentes, com algumas marcas e coincidências interessantes, para as quais traço algumas reflexões.

Primeiramente, tratemos da lucidez de Nise da Silveira, que deu uma entrevista a Ferreira Gullar, muito tempo atrás, material que está sendo resgatado e republicado em nova edição, junto a outros livros sobre a psiquiatra. Em meio a tanta loucura em que vivemos, areja-nos a lucidez de ambos. Será um lindo presente de aniversário. Subvertendo as palavras do poeta, a insana vida não basta, daí existirem a arte e a literatura.

Já o escritor Sérgio Augusto mostrou em artigo recente que ferramentas modernas também são úteis para manter vivos os clássicos, em que discorreu sobre "as viúvas eletrônicas de Kafka" e mencionou o encontro de Otto Maria Carpeaux com o escritor tcheco, antes do sucesso. Apenas gostaria que fossem também investigadas outras relações entre Kafka e Carpeaux, que na época era Karpfen, uma vez que ambos estudaram química. Que bela matéria em transformação ambos criaram!

Por fim, houve um adorável texto sobre a Bíblia, escrito por Anna Virginia Balloussier, em que levantou inúmeras inconsistências e idiossincrasias do livro considerado santo. Não fosse o fim da picada nem da piada, a Bíblia seria um excelente livro de entretenimento, apesar de muitas passagens serem proibidas para menores de idade. Já tentei auferir informações sobre qual a versão desse livro é a melhor e os entendidos sempre vomitam a mesma ladainha: não importa o escrito e sim o espírito da interpretação. Não dá para usar esse argumento em uma aula de literatura comparada.

Apenas informo que, ateu que sou, respeito a religião unicamente como forma individual de crença, nunca como o perverso instrumento de dominação usado por seus líderes. E restam inúmeros suspiros literários na comparação de obras e possibilidade de diálogos entre os famosos autores e obras aqui citados.