29 de novembro de 2024
RELATAM DESÂNIMO

Lojistas da quadra 1 do Calçadão em Bauru veem prejuízo crescente

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
André Fleury Moraes
Rafael da Silva (à esq.) é dono de uma loja na q. 2 e teme a chegada das obras; César Donizete, joalheiro da q. 1, teve de mexer nas economias para emergências

Lojistas e comerciantes da quadra 1 do Calçadão da rua Batista de Carvalho, no Centro de Bauru, relatam desânimo e alguns deles já não acreditam que a revitalização do primeiro quarteirão da via seja concluída neste semestre ou até mesmo neste ano.

A obra da quadra 1 deveria durar apenas 60 dias, mas já se estende por longos 113 deles - o equivalente a três meses e 23 dias, quase o dobro do prazo previsto no cronograma inicial. Procurada, a prefeitura não respondeu até a conclusão desta edição.

Muita coisa aconteceu desde o início da reforma. Mas nenhuma boa notícia ao comércio da primeira quadra, que viu o movimento despencar - alguns lojistas relatam até 70% de queda no movimento - e o prejuízo, subir.

Especialmente porque duas datas mais do que importantes ao comércio local passaram quase que desapercebidas para os donos de lojas da primeira quadra: o Dia das Mães e o Dia dos Namorados - este último, aliás, comemorado ontem (12).

A prefeitura chegou a admitir ao JC que o projeto executivo da obra tem erros e precisou ser ajustado já depois do início das obras. O principal problema envolveu canaletas subterrâneas que a Secretaria de Obras não sabia que existiam por ali.

A pasta disse inclusive que falhas em projetos "dessa envergadura" seriam naturais. Os lojistas, porém, têm pressa.

Proprietário de uma joalheria na quadra 1, o lojista César Donizeti está há 48 anos no mesmo ponto e diz nunca ter passado por situação semelhante. "A gente perdeu muita venda. Caiu bastante. É coisa de 70%, 80% [do movimento]", lamenta.

O caso dele é ainda mais dramático. Teve de mexer em economias que levou anos para construir. "Usamos dinheiro que não gostaríamos de utilizar", revela. Donizeti precisou até renegociar o valor do aluguel do ponto. "As contas não param de chegar. Pelo jeito como as coisas andam isso não termina tão cedo", complementa.

Clientes antes fiéis deixaram de visitar a joalheria nas datas comemorativas deste ano. Outros, mais idosos, nem se arriscam a entrar no Calçadão por temerem quedas e outros acidentes.

Rosangela Cristóvão, dona de uma loja de fantasias na mesma quadra, vive problema semelhante. "É um descaso total com os comerciantes e com os próprios clientes", denuncia. "É uma tristeza só".

Lojistas do primeiro quarteirão até há pouco tempo até se reuniam semanalmente para discutir a situação. Hoje nem isso fazem mais. "Todos estamos desanimados", diz Rosangela.

"Alguns erros aqui são primários, coisa de principiante. Como que não sabiam, por exemplo, que havia canaletas subterrâneas aqui no Calçadão?", indaga.

O trauma ao comércio do primeiro quarteirão já se estende antecipadamente aos lojistas da quadra 2, que querem distância de qualquer reforma.

É o caso do empresário Rafael Almeida da Silva, dono de um estabelecimento de eletrônicos naquela via.

"Estamos com medo. Até na quadra 3 tem gente falando que não vai deixar a obra chegar lá. Temos o receio de que a reforma demore tanto quanto ou mais do que no primeiro quarteirão. O sofrimento é de todos", pontua.

Procurado, o engenheiro contratado pela empresa responsável pela obra afirmou que aguarda a liberação de documentos ainda pendentes na prefeitura.

Ele disse ao JC, por exemplo, que a administração determinou que a empreiteira trocasse os tijolos que seriam afixados no chão do Calçadão mesmo depois de aprová-los num primeiro momento. O argumento foi de que a qualidade do material era inferior ao exigido - e restou à construtora arcar com o prejuízo da compra inicial.

Não bastasse a ordem pela troca, a autorização para os novos blocos levou 15 dias para chegar - várias amostras, de diferentes cidades, foram levadas à prefeitura, que demorou a avalizar uma delas.