27 de julho de 2024
COLUNISTA

Aniquilação do inferior e diferente

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Vivemos em um mundo onde a maldade e a violência são prevalentes. Em todos os lugares, testemunhamos injustiças, furtos, agressões, homicídios e conflitos armados. Em algumas regiões, a violência é parte integrante da vida cotidiana, enquanto em outras, ela surge repentinamente em áreas que pareciam pacíficas. Como podemos entender essa violência? Muitos acreditam que a maldade não é uma característica intrínseca ao ser humano, mas uma consequência da desigualdade social, defendendo que, ao melhorar as condições sociais, a bondade humana prevaleceria. Outros sustentam que a maldade é fruto do desenvolvimento evolucionário do ser humano em sua luta pela sobrevivência. No entanto, essas perspectivas, por si só, não são suficientes para explicar a complexidade da violência que observamos no mundo. Cada uma oferece uma visão parcial que precisa ser integrada a um entendimento mais amplo e multifacetado da condição humana e das forças sociais e biológicas que moldam nosso comportamento.

O cristianismo, em sua essência, ensina que os seres humanos foram criados em um estado de perfeição, mas rapidamente se desviaram ao se rebelar contra Deus, resultando em uma alienação mútua. Sem a graça redentora e transformadora de Deus, a humanidade pecadora está naturalmente imersa na maldade. Por natureza, os seres humanos são inclinados ao mal: ensimesmados e egocêntricos, arrogantes e orgulhosos, desonestos e enganadores, sanguinários e violentos. Tendem a atribuir a si mesmos um valor e uma importância exagerados, e não hesitam em recorrer a qualquer tipo de crueldade para alcançar seus objetivos. Essa arrogância os impede de reconhecer a supremacia criadora de Deus e a autoridade absoluta de sua verdade.

Durante a trajetória histórica, o orgulho humano tem se revelado em diversas formas, desde Caim, o primogênito de Adão e Eva, até os mais sádicos mercenários dos tempos contemporâneos. Para além da malevolência, o que une essas figuras é a busca por legitimar a violência através de argumentos enganosos. A situação torna-se ainda mais alarmante quando a ciência é manipulada para respaldar tais justificativas. Um exemplo notório é o movimento nazista durante a Segunda Guerra Mundial, que fundamentou sua ideologia na teoria da evolução, defendendo a sobrevivência do mais apto em detrimento do mais fraco. Isso resultou na aniquilação dos considerados sub-humanos pelos supostamente superiores arianos. Os nazistas afirmavam possuir evidências científicas para sustentar a superioridade da raça ariana sobre as demais. Embora a pseudociência nazista tenha sido desmascarada posteriormente, à época, ela convenceu muitos, incluindo pessoas instruídas e cientistas, ao apresentar uma plataforma aparentemente lógica de evolução. Na realidade, tudo não passava de uma ânsia egoísta por poder, utilizando-se de justificativas científicas para a aniquilação do "inferior e diferente". Milhões de vidas foram exterminadas como resultado dessa ideologia perversa.

Essa suposta validação científica para a subjugação do outro também encontrou eco na ideologia da superioridade étnica. A exploração dos negros africanos nos séculos passados foi justificada com a alegação de que eles eram geneticamente inferiores aos brancos europeus e americanos, culminando na crença de que a escravidão servia como um instrumento civilizador e de conversão ao cristianismo, embora sua verdadeira natureza fosse opressiva, desumana e motivada exclusivamente pelo lucro. Novamente, testemunhamos um exemplo de racionalização que se utilizou de argumentos pseudocientíficos para perpetuar a violência e a crueldade. E no contexto contemporâneo? No cardápio, destacam-se as justificativas para o aborto, fundamentadas em argumentos "científicos" que sugerem que o feto é meramente um aglomerado de células sem vida consciente. Essa perspectiva resulta na desvalorização e desumanização da vida em gestação, ainda que o verdadeiro objetivo por trás disso seja interromper uma gravidez indesejada.

Apesar da inestimável contribuição, a ciência por vezes tem sido manipulada para influenciar interpretações éticas e sociais como se fosse uma verdade incontestável. O cerne da questão não está na sabedoria em si, mas sim no seu uso deturpado por indivíduos egoístas. Ao longo da história, observamos cristãos se alinharem a líderes como Hitler, enquanto outros até mesmo justificaram a prática da escravidão. No entanto, diante da ameaça de que os mais poderosos subjuguem e até exterminem os mais vulneráveis, a lição fundamental é nunca desumanizar aqueles com quem discordamos. Partimos do princípio de que o verdadeiro ensinamento de Cristo está fundamentado no perdão e no amor divino em direção ao próximo. O autêntico seguidor de Cristo desloca o foco de si mesmo e se entrega totalmente à confiança em Deus. Em vez de se elevar com orgulho e egoísmo, ele se curva em humildade diante do Todo-Poderoso, que não preconiza a aniquilação dos mais fracos e diferentes, mas sim a erradicação de toda perversidade e egoísmo.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL
62 anos atuando Soli Deo Gloria