06 de outubro de 2024
BAURU

Governantes prometeram resolver falta de água e escassez persiste

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
JC Imagens
Rodrigo, Gazzetta e Suéllen

Rodrigo Agostinho prometeu, Clodoaldo Gazzetta fez o mesmo e Suéllen Rosim, também. Nenhum dos três resolveu. Problema crônico de Bauru, a falta de água persiste apesar das vontades e das ações, ou inações, dos governos e governantes que comandaram o município nos últimos 12 anos.

A garantia de iniciativas para resolver a seca consta dos planos de governo de todos os candidatos desde 2012, ano a partir da qual o documento está disponível nos sistemas da Justiça Eleitoral. Antes, como a maioria dos procedimentos envolvia papéis físicos, os documentos acabaram não digitalizados.

De qualquer forma, foi justamente na última década e meia que os sinais mais alarmantes da crise hídrica no Brasil - causada em grande parte pela alteração no regime de chuvas e pelas mudanças climáticas - começaram a surgir.

No plano de governo de 2012, quando conseguiu se reeleger para mais um mandato de quatro anos, o ex-prefeito Rodrigo já falava em medidas mais agressivas para combater a falta de água e o problema em torno do abastecimento no município que comandou por quase uma década.

Ele propunha, no documento chamado "Bauru de Todos", ampliar o número de poços em Bauru - com a construção de cinco deles, alguns dos quais finalizados só na atual gestão - e criar também novos reservatórios.

O plano falava ainda substituir as adutoras e a rede de coleta e distribuição de água no município - as tubulações subterrâneas, que em grande parte seguem as mesmas de 50 anos atrás.

Rodrigo apostava no combate às raízes dos problemas relacionados ao abastecimento e isso não incluía apenas a revitalização no encanamento. Entre outras propostas, havia também a "criação de equipes especializadas no combate a vazamentos e entupimentos, reduzindo o número de vazamentos e o tempo de reparo".

Para se ter uma ideia, levantamento do Departamento de Água e Esgoto (DAE) no ano passado apontava que o município tinha mil quilômetros de tubulação entupida, índice que equivale ao triplo da distância entre Bauru e São Paulo.

Clodoaldo Gazzetta inovou. Propôs no plano de governo "iniciar as tratativas jurídicas e legais para utilização dos recursos do Fundo de Tratamento de Esgoto (FTE) para os projetos e ações destinadas ao tratamento, distribuição e abastecimento de água na cidade".

Em outras palavras, queria utilizar os recursos do FTE, criado na segunda gestão Tuga Angerami (2005-2008), para combater os problemas de abastecimento no município. Não difere muito de Suéllen, que ganhou autorização legislativa para usar o fundo a obras de drenagem na avenida Nações Unidas.

O ex-prefeito, que acabou não sendo reeleito e sequer chegou ao segundo turno, falava também em criar um "plano de manejo das Áreas de Proteção Ambiental" para o rio Batalha - algo já proposto em outros termos em 2012 por Agostinho - e "investir na setorização do abastecimento de água da cidade, evitando desperdício e racionalizando a distribuição".

O plano de Gazzetta previa também investimentos na recuperação ambiental do rio Batalha. Chegou a enviar à Câmara - que aprovou - em 2019 o projeto prevendo a criação do Fundo Municipal para recuperação dos mananciais de águas superficiais das Bacias Hidrográficas Tietê-Jacaré e Tietê-Batalha.

Suéllen Rosim não escapou dessa lógica, embora ainda governe. O plano de governo da mandatária dedicou 3 tópicos à questão do saneamento básico, um dos quais previa "garantir o abastecimento regular de água em toda cidade, 24 horas".

"Fazer um levantamento logo no inicio do mandato para saber a real situação do DAE, do funcionalismo ao maquinário; e trabalhar valorização dos profissionais e na prestação de serviço de qualidade", complementava.

Eleita, a mandatária apostou as fichas na perfuração de poços. Informa ter inaugurado nove deles - novos são cinco; pois outros quatro foram revitalizados por seu governo, mas já existiam.

O fato, porém, é que a abertura dos novos poços não reduziu significativamente a deficiência do município na captação de água, embora tenha amenizado uma queda ainda mais brusca nos problemas relacionados à escassez hídrica.

Dados do próprio Departamento de Água e Esgoto (DAE) indicam que duas dessas fontes de captação de água produzem volume muito inferior ao esperado.

Quando do anúncio da perfuração do poço do Alto Paraíso, por exemplo, o governo estimou captação hídrica média de 179,43 metros cúbicos por hora.

A vazão média do local está em 18,56 na mesma medida. O investimento custou R$ 1,3 milhão aos cofres públicos.

PRESSÃO PELA REGULARIZAÇÃO DO ABASTECIMENTO AUMENTA

A mais recente crise hídrica que Bauru sofreu - e da qual ainda não se livrou - ampliou a pressão sobre o governo por ações concretas no combate à falta de água.

Na segunda-feira (27), por exemplo, o vereador de oposição Coronel Meira (Novo) teceu duras críticas à administração, disse que o governo nada fez para amenizar a crise de abastecimento e afirmou que a prefeita "ignora as evidências de que novos e antigos poços estão perdendo a capacidade de produção, provavelmente em razão da queda do nível do Aquífero Guarani".

"Não adianta perfurar poço. É preciso ter outra alternativa", alertou. "Suéllen precisa exercer uma liderança regional e pressionar a empresa de celulose que temos na região", complementou.

Naquela região, existem muitas propriedades com plantão de eucalipto, monocultura que exige mais água do que as demais produções.