27 de julho de 2024
OPINIÃO

Inflação, desemprego e dívida pública

Por Reinaldo Cafeo |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

Dados macroeconômicos permitem uma leitura do estágio atual da economia brasileira e os desafios, e até mesmo os riscos que nos esperam.

O IPCA-15, prévia da inflação oficial, ficou em 0,44% em maio, mais do que o dobro em relação ao mês anterior (abril foi 0,21%), porém, abaixo das expectativas do mercado. Se fosse considerado somente este dado, seria possível projetar novas quedas na taxa básica de juros, isso porque a inflação acumulada em 12 meses está dentro dos limites da meta fixada em 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O IPCA-15 acumula 3,70% em 12 meses. Vale destacar que a meta mira a inflação futura, mas o dado acumulado é importante parâmetro para entender a trajetória desta variável.

No tocante à inflação, é importante também avaliar outros índices, como o IGP-M da FGV, que ficou em 0,89% em maio, bem acima do 0,31% do mês anterior. Por este indicador, há um sinal de alerta, principalmente porque os preços no atacado (IPP - Índice de Preços ao Produtor) registraram variação de 1,06% e, certamente, atingirão em breve os preços ao consumidor.

A notícia positiva veio do mercado de trabalho. A taxa de desocupação no trimestre fechado em abril ficou em 7,5% inferior aos 7,6% do trimestre anterior. Mesmo havendo 8,2 milhões de trabalhadores em busca de uma colocação, o mercado de trabalho se mostra resiliente, principalmente no tocante a geração de emprego tanto de carteira assinada como não-assinada.

Todavia, há uma variável que, se somada a pressão inflacionária joga um balde água fria nas perspectivas de crescimento econômico: o crescimento da dívida pública bruta que atingiu 76% do PIB, o maior em dois anos. A dívida cresceu R$ 8,4 trilhões de março para abril, mesmo com superávit primário de R$ 6,7 bilhões.

O que a combinação de pressão inflacionária com aumento na dívida pública indica? Que a taxa de juros não cairá na dimensão desejada pelos agentes econômicos.

De um lado juros altos seguram o consumo das famílias, auxiliando no controle da inflação, e por outro lado, juros altos garantem a rolagem da dívida pública, à medida que sua elevação gera incertezas, e o prêmio pelo risco deve ser mais elevado.

Se isso efetivamente ocorrer, o crescimento econômico será menor, podendo, inclusive, elevar a taxa de desemprego ao longo do tempo.

O cenário econômico seria benigno se o governo, em todas as suas esferas mantivesse o rigor fiscal, evitando o crescimento da dívida pública, gerando menor nível de incertezas. Neste contexto a roda da economia geraria forte, melhorando o ambiente de negócios. Mas infelizmente não é este o cenário.