06 de outubro de 2024
POLÍTICA

Câmara abre CEI do Hacker com composição de maioria governista

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Pedro Romualdo/Câmara de Bauru
Vereadores durante sessão desta segunda (27); CPs foram rejeitadas e CEI, instaurada

A Câmara Municipal de Bauru instaurou nesta segunda-feira (27) uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar o episódio envolvendo a contratação de um hacker para monitorar desafetos do governo Suéllen Rosim (PSD).

Com maioria governista, compõem a CEI os vereadores Marcelo Afonso (PSD), José Roberto Segalla (União Brasil), Eduardo Borgo (Novo), Edson Miguel (Republicanos) e Markinho Souza (MDB). Dos cinco membros, Markinho, Afonso e Edson Miguel integram a base do governo.

O caso foi revelado no ano passado e envolve o cunhado da prefeita Suéllen, Walmir Henrique Vitorelli, que teria negociado valores com Patrick César da Silva Brito - posteriormente preso na Sérvia pela Interpol, a Polícia Internacional - para invadir dispositivos da vereadora Estela Almagro (PT) e do jornalista Nélson 'Itaberá'.

Um outro pedido de CEI sobre este mesmo tema já chegou a ser solicitado pela oposição, mas acabou retirado depois de uma manobra da base governista para formar maioria no colegiado.

A Comissão, porém, voltou a ganhar força após a notícia de uma busca e apreensão envolvendo integrantes do círculo íntimo de Walmir Vitorelli.

Como noticiou o JC, o escrivão Felipe Garcia Pimenta, meio-irmão de Vitorelli, foi alvo de busca e apreensão no mês passado, na sala onde trabalha na Delegacia de Polícia de Araçatuba, e teve de entregar seu celular e seu computador às autoridades.

A medida veio no âmbito do inquérito instaurado pela Corregedoria Auxiliar da corporação que apura eventual violação de sigilo funcional de Pimenta na participação no episódio envolvendo a invasão de dispositivos das vítimas do caso hacker.

Fora isso, há também o relatório da Comissão Temporária da Câmara — criada no ano passado para investigar o episódio e já finalizada.

O cunhado da mandatária nega irregularidades, mas deu depoimentos contraditórios sobre o caso. Walmir confessou à Corregedoria ter pago valores ao hacker, enquanto disse à Civil de Bauru jamais ter sequer falado com ele.

Procurado pelo JC na época para comentar as contradições, ele afirmou que não há controvérsia alguma em seus depoimentos.

Depois, quando da busca e apreensão contra seu meio-irmão Felipe Pimenta, ele disse que "não vou me manifestar porque não tenho absolutamente nada a ver com o caso", embora o episódio envolva diretamente seu nome.

A prefeita Suéllen Rosim negou envolvimento no caso, diz que não conhece o hacker e que tomaria 'medidas judiciais cabíveis'. O relatório da Câmara está sob sigilo.

O JC apurou que o relatório revelou documentos inéditos, entre os quais conversas do hacker Patrick com um policial civil de Araçatuba contando, ainda em 2021, sobre sua contratação para realizar serviços ilícitos em Bauru.

Na conversa, travada entre Patrick e um policial chamado Edison, o hacker diz que a indicação de Pimenta [para os serviços em Bauru] é boa porque ele já havia recebido R$ 1 mil sobre dois serviços. O relatório sugere que os dois serviços foram as invasões aos dispositivos de Estela e Nelson.

Nessa mesma conversa, Patrick diz que Suéllen é honesta porque não retira recursos da prefeitura para pagá-lo - o que sinaliza a origem do dinheiro repassado a Patrick supostamente através de Walmir.

A conversa ocorreu em setembro de 2021, poucos dias após o pagamento do R$ 1 mil - Patrick afirmou desde o início que o repasse teria sido feito em agosto.

'No final é cadeia a todo mundo', diz Márcio França sobre o caso

Crédito: André Fleury Moraes

Ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, o ex-governador de São Paulo Márcio França diz que, mais cedo ou mais tarde, todos os envolvidos no episódio envolvendo a contratação de um hacker para monitorar desafetos do governo Suéllen Rosim (PSD) serão presos. "No final é cadeia para todo mundo", afirma.

O caso não é o mesmo, mas guarda semelhanças com a operação da qual França foi alvo no início de 2022, a Raio-X. A operação apurou ligações de políticos, entre eles França, com desvios sobre organizações sociais (OSs), mas corre o risco de ser anulada se comprovada a participação ilegal de um hacker aliciado pela Polícia Civil. O hacker é o mesmo Patrick César da Silva Brito. "É o submundo do submundo", disse França em visita a Bauru no último sábado (25). "É maloqueiragem, fuleiragem, não pode dar certo. É uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde vai aparecer todo mundo que teve essa ideia de girico", afirmou o ministro durante entrevista coletiva. "Isso é algo de uma república de bananas", complementa.