23 de dezembro de 2025
CULTURA

Textos de Caetano sobre cinema: exercício de liberdade

Por FolhaPress |
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Divulgação
Cine Subaé: Escritos sobre Cinema (1960-2023) tem 440 páginas (foto ampliada no final)

Às vezes é difícil saber se Caetano Veloso é mais apaixonado pelo cinema ou pela música. Talvez o cinema seja uma paixão e a música outra, apenas que esta é também seu destino. Talvez, ainda, eu esteja apenas procurando uma fórmula para entender alguém que se interessa por tudo, a escrita, o teatro, a pintura - que pratica com gênio várias dessas artes (a pintura não sei, mas ele a pratica em suas roupas e cenários).

Talvez tudo isso seja resultado da formação baiana do momento a que ele se refere em "Cine Subaé: Escritos sobre Cinema (1960-2023)", volume recém-lançado, organização de Claudio Leal e Rodrigo Sombra. O fato é que logo desembocou na crítica de cinema, que exerceu de maneira precoce e amorosa. Tinha mais ou menos a mesma idade - menos de 20 - que Rogério Sganzerla quando tomou a si o ofício. Tinha a experiência de um jovem fã de cinema que não perdia as sessões do Cine Santo Amaro, em sua cidade. A partir dela, dá aulas de liberdade. Quando, por exemplo, designa "Hiroshima, Meu Amor" de poema "literoplástico" e justifica a palavra. Ali, escreve: "Não há só uma fusão de palavras e imagens, mas também a supervalorização do texto... 'cinema' funciona como ilustração, uma ilustração genial, mas ilustração." Pode-se discordar ou não, mas ali está a dúvida que ronda a cabeça de qualquer amante desse filme.

Quando escreve sobre "A Grande Feira", de Roberto Pires (1961), abre o texto assim: "O que tem impedido o surgimento de grandes obras no cinema nacional é a insegurança que o equilíbrio existente entre as tendências de emoção - pessoal, necessidades comerciais, compromissos sociais e estéticos - provoca nos realizadores." Para ser íntegro, o realizador precisa ser fiel a sua emoção, à sua ideologia política, honesto com o povo (a que deve ser acessível), com a intelligentsia, com os financiadores e ainda fiel à necessidade de criar uma reputação ao cinema brasileiro no exterior.

Quanto a "Imitação da Vida", de Douglas Sirk, me surpreendi com a veemência com que desanca esse belo filme. Se viesse de outro crítico eu entenderia, mas Caetano é aquele que reinterpretou "Coração Materno" e mostrou o quanto aquele dramalhão podia ser belo. Mais tarde, Caetano admirará de fio a pavio o cinema de Pedro Almodóvar. Essas surpresas ajudam. Elas abundam na parte final do livro, em que Caetano se exprime em entrevistas ou fragmentos delas. Cada página dessa antologia magnificamente colhida e organizada por Leal e Sombra nos diz alguma coisa, nos enriquece de algum modo.

CINE SUBAÉ: ESCRITOS SOBRE CINEMA; Preço R$ 129,90 (440 págs.); R$ 49,90 (ebook); Autoria Caetano Veloso; Organização Claudio Leal e Rodrigo Sombra.