29 de novembro de 2024
COLUNISTA

O Espírito Santo é o 'beijo do Pai e do Filho'

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 4 min
Bispo Emérito de Bauru

Neste domingo celebramos Pentecostes, a solenidade do Divino Espírito Santo que é o padroeiro da nossa Diocese de Bauru. Ouvimos na Palavra de Deus da santa Missa que o Espírito Santo, em Pentecostes, desceu sobre os discípulos sob a forma de "línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e pousou uma sobre cada um deles" (At 2,3). São João, no Evangelho da santa Missa - Jo 20,19-23 - escreve que o Ressuscitado soprou sobre os discípulos, dizendo: "Recebam o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados". São Paulo, em 1 Cor 12, afirma que "Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo" (v.3). O Espírito Santo é a efusão ou o sopro da vida e do amor do Pai e do Filho. Os santos padres, no princípio da Igreja, chamavam ao Espírito Santo "Osculum Patris et Filii", o beijo do Pai e do Filho.

O Espírito Santo, que procede do mútuo amor entre o Pai e o Filho, é mistério de amor. Ninguém será capaz de realizar na terra a obra do amor pleno e divino em sua vida nem a aliança perfeita que une a terra ao céu senão na força do Espírito Santo. Segundo afirma São Paulo, "O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo" (Rm 5,5). O Espírito é, também, mistério da verdade. O entendimento dos mistérios divinos sobre a vida, a morte e a verdade está nEle; dEle provém o dom da ciência, inteligência e sabedoria. Como disse Jesus, o Espírito Santo "convencerá o mundo quanto ao pecado, quanto à inocência e quanto ao julgamento... Quando Ele vier, o Espírito da verdade há de guiar-vos para a Verdade completa" (Jo 16,8-13). O Espírito Santo é, ainda, fonte e dinamismo da vida cristã, conforme diz São Paulo: "É que o Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17). O Espírito Santo é a força divina que Deus enviou e envia sobre algumas pessoas para intervirem na história em situações de perigo, e cumprirem uma missão de conversão e salvação da humanidade. Assim ocorreu no Antigo Testamento e, depois, no Novo Testamento conforme conhecemos pela Bíblia, como também até os dias de hoje. O Espírito Santo repousou, de forma excelente, sobre Jesus de Nazaré, e nEle permaneceu para que pudesse cumprir a missão do Pai de redenção dos homens. "Deus ungiu com o Espírito Santo e com a sua força a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar a lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo maligno, porque Deus estava com Ele" (At 10,37-38). Jesus enviou os discípulos ao mundo inteiro, para, com a força do Espírito Santo, anunciarem o Evangelho em nome da Trindade Santa (cf. Mt 28,1), para concederem aos aflitos o perdão dos seus pecados, do qual nasce a paz, para batizarem os convertidos com um novo batismo "no Espírito Santo" (Jo 1,33), em suma, para edificarem a sua Igreja como "uma, santa e católica". São Lucas registrou que os cristãos eram "um só coração e uma só alma, e tinham tudo em comum" (At 4,32). Mas o Espírito Santo foi dado a todos nós no batismo e nos tornamos sua morada: "Não sabeis que o Espírito de Deus habita em vós?... O templo de Deus é santo e esse templo sois vós" (1Cor 3,16-17).

Nós, cristãos, cremos e professamos que o Espírito Santo vivifica a oração da Igreja. Na força do Espírito a Liturgia da Igreja atualiza o mistério de Cristo que nós o experimentamos participando dela. Por isto, a Liturgia nos faz crescer na comunhão com Deus. O Espírito inspira os ministros da Igreja a evangelizarem não com argumentos persuasivos da sabedoria humana, mas com a força divina que vem dEle, e a transmitirem a palavra certa segundo o ensinamento do magistério da Igreja. O Espírito dá a força divina às palavras do sacerdote quando consagra a Eucaristia, perdoa os pecados, unge os enfermos, abençoa os fiéis. O Espírito suscita no coração dos fiéis os gemidos inefáveis mediante os quais eles gritam "Abba, Pai", na oração cristã do Pai Nosso e em todas as outras orações, porque Ele lhes ensina a rezar e por eles intercede a Deus pedindo os verdadeiros dons e graças de que necessitam no aqui e agora, mas também no futuro do mundo que há de vir.