28 de setembro de 2024
OPINIÃO

Liberdade de expressão

Por Mauro C.P. Landolffi |
| Tempo de leitura: 3 min

A "Antigamente, para conquistar e subordinar um país, os Estados Unidos mandavam exércitos. Hoje, mandam Michael Jackson e Madonna. (...)"

Com sabedoria e humor, Ariano Suassuna falava do poder da dominação cultural dos países imperialistas sobre os menos desenvolvidos. Existe outro poder, no entanto, que também é usado como poderosa arma para subjugar de forma efetiva nações no mundo atual: o poder da desinformação.

É fato comprovado que nações imperialistas - não somente os EUA - promovem atualmente campanhas de desinformação para provocar instabilidade institucional em países emergentes como o Brasil utilizando, além de uma forte influência na mídia comercial, uma produção industrial de fake News. Seja na internet, seja em uma mídia vendida, a mentira é a garantia do poder.

Para conter, por exemplo, um país que vem despontando como uma das primeiras economias do mundo e como uma liderança continental, pondo em cheque o domínio de nações imperialistas, nada mais eficiente que uma incansável campanha midiática que coloque o próprio povo contra seus líderes. Uma verdadeira lavagem cerebral, que deixa a cargo dos próprios cidadãos impedir o desenvolvimento de sua terra.

Quando se fala em regulamentação das mídias sociais, o primeiro contra-argumento utilizado é a "liberdade de expressão", mas as mídias sociais são apenas a ponta do iceberg. Liberdade de expressão existe para quem? Liberdade é o mesmo que poder econômico? Esses conceitos são confundidos quando se fala em quem pode se expressar. A verdade é que só podem se expressar de forma abrangente aqueles que têm poder econômico. Quem detém, por exemplo, as outorgas públicas para funcionamento de rádio e TVs?

A mídia é tida como o quarto poder, mas ela é apenas um braço do poder econômico. Não só o mercado financeiro, mas forças políticas externas nadam de braçada com uma mídia em que só é falado e absorvido por toda uma população aquilo que seus verdadeiros proprietários ou patrocinadores querem. Das redes de TV nem é preciso falar, mas você liga o rádio em algumas estações, por exemplo, e ouve programas representando tão somente um setor da política nacional. Em uma sociedade existem diferentes setores, interesses e valores, mas o que se tem são horas de falação defendendo interesses de apenas um lado e atacando tudo que está ligado aos demais, especialmente aqueles ligados aos interesses da maioria. Programas sobre política em que o apresentador fala uma coisa, o comentarista fala a mesma coisa, os convidados, a mesma coisa e assim também os participantes a quem se permite o acesso. Discursos repetitivos, análises rasas, qualquer fato novo é motivo para atacar, de forma deselegante e desrespeitosa, pessoas que merecem no mínimo o respeito daqueles que são ouvidos por tantas outras. Não é jornalismo, não é informação, mas propaganda política. E a pergunta é: é para isso que servem as concessões públicas para funcionamento de rádios?

As pessoas querem se informar, se colocar a par das coisas para poder se posicionar, participar ativamente da vida política do país, e veem a mídia comercial como uma fonte de informação confiável. O papel do jornalismo seria fornecer a informação para que o público absorvesse, refletisse, relacionasse com o que vê à sua volta e então formasse o seu posicionamento. O que acontece, no entanto, é que, por meio de comentários tendenciosos, a informação já sai recheada com o posicionamento que se quer dos ouvintes.

O espectador já recebe a informação embrulhada com um conteúdo que lhe diz sobre o que falar, o que criticar, quem xingar, em quem votar. Não é isso que as pessoas querem. Só se pode falar em liberdade de expressão quando todos podem se expressar.