Bauru possui mais estabelecimentos religiosos do que de saúde ou de ensino. É o que revelam as coordenadas geográficas do Censo Demográfico 2022, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início deste mês. Foram contabilizados 719 desses espaços em suas diversas denominações distribuídos por toda a cidade, 650 de saúde, com maior concentração nas regiões central e sul, e 334 de ensino.
Os recenseadores também identificaram 21.463 estabelecimentos com outras finalidades, categoria que, segundo o IBGE, abrange lojas, agências bancárias, prédios públicos, entre outros. Ao todo, foram mapeadas 200.245 coordenadas no Censo, sendo 171.319 domicílios particulares, que correspondem a 85,5% no universo apurado.
De acordo com os critérios do Censo, estabelecimentos religiosos incluem igrejas, templos, sinagogas, centros espíritas, terreiros e outros. E, em Bauru, foi localizado um deles para cada 527 habitantes. No País e no Estado, as médias são, respectivamente de um espaço para cada 350 e 529 moradores. Ou seja, na cidade, proporcionalmente à população, existem menos unidades religiosas do que no território nacional e quase paridade em relação ao território paulista.
MÉDIAS
Já em relação às unidades de saúde, que incluem hospitais, postos de saúde e outros locais de atendimento, públicos ou privados, como consultórios, clínicas médicas e odontológicas, a proporção, em Bauru, é de 1 a cada 583 habitantes. A média nacional é de 1 a cada 820 moradores e a paulista, de 1 por 779 residentes.
A rede de educação, por sua vez, conta com um estabelecimento a cada 1.135 habitantes em Bauru. No cenário nacional, a média é de 1 a cada 768 moradores e, no estadual, 1 a cada 1.090 residentes. Apesar de, numericamente, o resultado bauruense parecer ruim, é importante destacar que a cidade é polo universitário e abriga instituições de grande porte, com milhares de estudantes matriculados.
Mestre e doutora em ciência da religião pela PUC-SP e professora da Unisagrado, Flávia Santos Arielo avalia que o levantamento do número de estabelecimentos religiosos, inédito no Censo, contribui para a melhor compreensão do Brasil contemporâneo, visto que este aspecto se relaciona com outras dimensões do País, como a social, econômica e política. "Existe um vácuo deixado pelo Estado, quando não consegue garantir qualidade de vida à população, que vai ser preenchido de outra forma, muitas vezes, por meio da religião", analisa.
NEOPENTECOSTAIS
Neste contexto, a docente aponta o crescimento acelerado do protestantismo pentecostal e neopentecostal nas últimas décadas. Conforme mostram os dados do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), os templos evangélicos saltaram de 17.033 em 1990 para 109.560 em 2019 no Brasil, com capilarização, inclusive, para o interior do País.
"Nestes espaços, as pessoas encontram ajuda alimentar, auxílio para conseguir emprego, um local para conhecer pessoas e até se casar. E as igrejas neopentecostais possuem um arcabouço burocrático muito menor para a abertura de novas unidades, o que não ocorre com a Igreja Católica e a Igreja Protestante tradicional, como a Batista e a Presbiteriana, que possuem uma hierarquia forte", detalha.
Além disso, Arielo cita que pessoas pertencentes a religiões afro-brasileiras, como umbanda, candomblé e quimbanda, historicamente perseguidas, têm mais tranquilidade, atualmente, para se declararem pertencentes a elas e exercerem sua fé por meio delas. "Isso ajuda estes estabelecimentos a crescerem", avalia.
MAIS DE 5 MIL IMÓVEIS EM OBRAS
O Censo Demográfico 2022 também apurou a existência de 5.161 edificações em construção ou reforma - sem moradores -, em Bauru, o que corresponde a 2,6% do total de 200.245 imóveis identificados. "Um prédio com 100 apartamentos é considerado uma única edificação. No formulário, o recenseador preenche como sendo uma unidade com dez ou mais endereços", detalha Bruno Dal Medico Hirsch, coordenador de área do Censo em Bauru. O número expressivo surge em um contexto de expansão dos lançamentos de empreendimentos residenciais verticais e horizontais na cidade, que gerou, inclusive, alta na demanda por mão de obra na construção civil.